quinta-feira, 30 de junho de 2016

Praga antiga

      “Os homens não inventaram nada mais nefasto do que o dinheiro. Corrompe as cidades, destrói os lares, mina as almas mais honestas levando-as a atos cruéis ou vergonhosos, ensina perfídia ao mais ingênuo e conduz até o santo  ao sacrilégio.”

      (“Antígona”, Sófocles, Editora Paz e Terra SA, Rio de Janeiro, 1996, 4ª Edição, Coleção Leitura, tradução de Millôr Fernandes, Página 17.)

terça-feira, 28 de junho de 2016

Desfazendo-se da riqueza

      “Outro dia, vi um homem rico, de pé à porta do templo, estendendo suas mãos cheias de pedras preciosas aos passantes, chamando-os e dizendo-lhes: ‘Tenham pena de mim. Tomem estas joias, levem-nas para longe. Elas adoeceram minha alma e empederniram meu coração. Apiadem-se de mim, levem-nas e me façam sadio outra vez’.”


      (“A Voz do Mestre”, Kahlil Gibran, Círculo do Livro, São Paulo, 2ª Edição, 1974, Páginas 32-33.)

domingo, 26 de junho de 2016

Revolução Cultural Chinesa

      “ – Eu não mataria nem um bispo. Não mataria um proprietário de espécie alguma. Obriga-los-ia, sim, a trabalhar no campo, diariamente, como nós trabalhamos, e pelo resto de suas vidas. Assim saberiam para que foi que o homem nasceu. Teriam de dormir onde nós dormimos. Comer o que nós comemos. Mas antes de mais nada teriam de trabalhar. Haviam de aprender.”


      (“Por Quem os Sinos Dobram”, Ernest Hemingway, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1941, Tradução de Monteiro Lobato, Página 36.)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Capitalismo de Petrônio

      “ – Que aconteceu àquelas cóleras, àqueles arrebatamentos que ninguém podia apaziguar? Eis-te aí exposto aos peixes e aos animais ferozes, tu que, ainda há pouco, te mostravas tão orgulhoso de teu poder! De todo aquele grande navio que possuías, não te restou sequer uma tábua para te salvares do naufrágio! Ide agora, mortais insensatos, enchei vossos corações de projetos ambiciosos! Fiai-vos no futuro, e preparai-vos para usufruir durante milhares de anos vossas riquezas, adquiridas através de fraudes.”


      (“Satiricon”, Petrônio, Abril Cultural, São Paulo, 1981, Página 159.)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A Propriedade é Absurda

      “Nós não possuímos coisa alguma. O mundo é transitório. Chegamos ao mundo sem coisa alguma e partimos sem nada. Não acha que propriedade é coisa um tanto absurda?”

      (“Harold e Maude – Ensina-me a Viver”, de Colin Higgins, Editora Record, Rio de Janeiro, 2ª Edição, Página 36.)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Louca mesquinharia

      “Tudo no mundo leva às mesmas mesquinharias; e aquele que, para agradar aos outros, e não por paixão ou necessidade, se esgota no trabalho para ganhar dinheiro, honrarias, ou o que quer que seja, aquele que agir desse modo, digam o que disserem, é um louco.”

      (“Werther”, Johann Wolfgang Goethe, Abril Cultural, 1971, 1ª Edição, 51.)

sábado, 18 de junho de 2016

Duplo Horror

      Um artigo lido por mim dias atrás, de Celso Lungaretti, que pode ser acessado no link abaixo, fez uma análise profunda e original, sobre a qual vou discorrer. Os atentados terroristas na Europa, como o de Paris no ano passado, e os massacres nos EUA, como o da boite gay de Orlando, são amplamente veiculados pela grande mídia internacional e considerados uma aberração à ordem estabelecida. Aí é que está o grande engodo: ESTA ORDEM ESTABELECIDA É QUE É A VERDADEIRA ABERRAÇÃO. Ao promover uma ampla publicidade destes atos criminosos, quer dar-se a entender sub-repticiamente que o establishment, em contraposição a eles, é normal e saudável. O mesmo ocorre com o Al Qaeda, o Estado Islâmico e o Boko Haram, cuja existência é considerada um retrocesso medieval a obstar o pleno florescimento desta maravilhosa e perfeita civilização moderna de que temos a suprema felicidade de pertencer. Portanto, tais atos de violência e tais grupos terroristas prestam um extraordinário serviço à manutenção do status quo, este sim, o VERDADEIRO CRIMINOSO. Sendo assim, servindo para disfarçar o VERDADEIRO MAL, num jogo de extremos, estes atos e grupos tão cedo acabarão, pois estão no fundo a serviço das forças planetárias mais reacionárias possíveis.


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Arte Louca

      Uma evidência da insanidade desta “sífilis-ação” semita pode ser encontrada até mesmo em algo aparentemente insuspeitado: na arte da Poesia. Não há como negar que a poesia moderna é fria, assimétrica, feia, complexa, racional e elitista. Mas, quando lemos os antigos sonetos, repletos de harmonia, ritmo, lirismo, estesia, pureza e simplicidade, nós percebemos o quanto de embrutecimento tivemos de aturar no século XX. Poucos sabem que isto não é um fenômeno natural, mas foi arquitetado nos escritórios luxuosos das megalópoles do hemisfério norte para submeter os povos a um tacão absolutista cujo objetivo maior é a escravização das massas para que uma elite necrófila possa sobreviver em seu vampirismo milenar.


      Eu sou visceralmente revolucionário, rebelde e iconoclasta, mas, em termos de Arte, (e estou falando de todas elas) sou essencialmente clássico. Desde o século XIX vemos a Arte perder a sua simplicidade e beleza para assumir a complexidade e a feiura. A estesia dos sentimentos cedeu lugar à frieza do racionalismo. A harmonia foi substituída pela dissimetria. Poucas obras da chamada arte moderna me atraem e seduzem. É por isso que o grande público não se interessa mais pela Arte, pois não a entende e não sente nenhuma empatia por ela. É apreciada, em boa parte dos casos, apenas por uma elite intelectualizada. Chegou-se ao mais baixo nível do grotesco e do ridículo, especialmente em termos de artes plásticas, música e poesia. A Arte não é uma esfinge a ser decifrada com o cérebro, mas uma obra a ser sentida e admirada, embora também possa conter signos enigmáticos. Mas esta decadência artística é apenas um reflexo do “modernismo” que começou a se instalar no mundo após as duas revoluções, a francesa e a industrial. Um mundo caótico não pode produzir senão caos. Estes “monstrengos” da dita arte contemporânea não produzem na minha alma o mínimo efeito. Portanto, para mim, são apenas NADA. É o mais moderno autismo artístico, a hodierna torre de marfim. A Arte não é feita para um seleto clubinho de entendidos, mas para o grande público.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Estamos todos DOIDOS...

      Quando ando pelas ruas costumo observar as pessoas como se elas não passassem de sonâmbulas. Parecem estar sob o efeito de alguma droga psíquica a qual lhes tolda a razão. Ou então as vejo como se fossem prisioneiras sem consciência de sua prisão. A esmagadora maioria da população terrestre vive num estado de transe em função da sua projeção interna na realidade externa. Ainda bem que é assim, pois uma generalizada clarividência provocaria um caos inimaginável. O ser humano NECESSITA se agarrar a algo palpável para que possa viver. Se o mundo fosse saudável e equilibrado, não haveria nenhum problema. Acontece que é justamente o oposto. Vivemos numa sociedade estruturada em cima de sistemas absolutamente INSANOS, a começar pelo capitalismo, a sua pedra angular. A ILUSÃO de que a existência material é algo “comum” e “normal”, perfeitamente “estável” e “segura”, torna os indivíduos INCAPAZES de perceber a verdadeira face deste HORROR que nos domina e acorrenta. Krishnamurti falou de forma definitiva e magistral: “Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”. Portanto, nós terráqueos estamos irremediavelmente MALUCOS.  


quarta-feira, 15 de junho de 2016

"Elogio da Loucura" - Erasmo de Roterdan

      Em dezembro de 1997 eu li “Elogio da Loucura”, do Erasmo de Roterdan (Editora Novo Horizonte S.A., 1986). Encontra-se ali muita sabedoria! A parte final sobre os clérigos da Igreja Católica é excelente! Neste discurso da “Senhora Loucura”, Erasmo não poupa as mulheres:
      “Com efeito, se sucede querer uma mulher passar por sábia, nada mais fez do que acrescentar nova loucura à que já possui, pois quando se recebe da natureza uma propensão viciosa, é aumentá-la querer resistir-lhe ou ocultá-la sob a máscara da virtude. Macaco é sempre macaco, diz um provérbio grego, ainda que o vista da cabeça aos pés a mais rica das púrpuras. Do mesmo modo, mulher é sempre mulher, sempre louca, por mais que se esforce por o não parecer.” (Página 33)
      O saudoso amigo Décio Mostaro costumava dizer: “Mulher não enlouquece, piora”. Divina loucura!... E parece ter Deus ordenado às mulheres jamais se interessarem por mim. Erasmo explica esta ojeriza:
      “Quereis viver no império da volúpia e dos prazeres? As mulheres, que em grande parte o governam, são inteiramente devotadas aos loucos, e fogem do sábio como se nele vissem animal horrendo e venenoso.” (Página 125)
      Disse William Blake: “Se o doido persistisse na sua loucura tornar-se-ia sensato”. Eis os versos iniciais do grande Cruz e Sousa, no soneto “O Assinalado”: “Tu és o louco da imortal loucura, / o louco da loucura mais suprema”. Rebate a “Dona Loucura”:
      “Ó tu, o mais louco de todos os homens, ó tu que aspiras à sabedoria, pensa, rogo-te, em todos os sofrimentos, em todas as inquietações que te fazem sangrar, dia e noite, a alma, lança um olhar aos espinhos que essa sabedoria semeia em todos os instantes da tua vida, e saberás por fim, de que multidão de males preservo os meus eleitos!” (Página 60)
      Pensando nisto criei esta trova: Suporto os cravos daninhos, / bebo o fel desta agonia: / dói a coroa de espinhos / na cruz da sabedoria. Fernando Pessoa escreveu: “Por que, ó Sagrado, sobre a minha vida / derramaste o teu verbo? / ... / Maldito o dia em que pedi a ciência...”
      Erasmo é irônico com os indivíduos da minha classe:
      “Os poetas já me não devem tantas obrigações: o seu próprio estado lhes concede um direito natural aos meus dons. Constituem, como sabeis, um povo livre, incessantemente ocupado em adular os ouvidos dos loucos com asneiras e contos ridículos. Basta-lhes isso para se julgarem no direito de aspirar à imortalidade e até de a prometer aos outros. O amor-próprio e a adulação têm por eles amizade especialíssima, e não há na terra quem me preste culto mais puro e constante.” (Página 89)
      Retornando à questão analisada em Ibsen e Machado, fala “Madame Loucura”:
      “Platão imaginou uma caverna em que os homens, encadeados, só viam sombras e aparências; mas um deles escapa, vê coisas reais, e voltando diz aos companheiros: ‘Como sois infelizes! Não percebeis senão sombras, e laborais em grande erro crendo que nada mais existe. Fora desta caverna é que existem objetos reais, e eu acabo de vê-los’. Enquanto esse sábio deplora o erro e a loucura dos supostos infelizes, estes, por sua vez, o consideram louco, zombam dele e o expulsam.” (Página 142.)

      Este mito famoso representa a síntese não só da realidade social como da natureza espiritual do ser humano. A pressão esmagadora da MAIORIA dos cegos produz intenso sofrimento na MINORIA dos visionários. É por isso que sou feliz, como afirmei antes, posto que não me foi dada a tarefa inglória de alertar os iludidos pelas sombras. Contento-me apenas em apreciar o esplendor do céu, na entrada da caverna. No seu devido tempo eles VERÃO A LUZ...

terça-feira, 14 de junho de 2016

"O Alienista" - Machado de Assis

      Quando estava redigindo o texto sobre a peça “Um Inimigo do Povo”, do Ibsen, escrita em 1882, lembrei-me de “O Alienista”, do Machado de Assis, e depois descobri que foi publicado originalmente neste mesmo ano. Eis aí uma bela sincronicidade.

      Esta novela do Machado narra a história de outro médico, o Dr. Simão Bacamarte. Ele abre na sua cidade, Itaguaí-RJ, um manicômio. No início, os internos eram realmente loucos. Porém, o alienista começa a internar pessoas sem distúrbios mentais. E a trama vai se tornando complexa, com revoltas e reviravoltas, até que o Dr. Bacamarte descobre ser o único louco da cidade e se tranca sozinho na Casa Verde, o hospício que ele próprio criara.

      O humorismo machadiano trata de um tema complexo da psique humana, ou seja, os tênues limites entre sanidade e loucura. O que é normalidade? Desvios de caráter não seriam uma forma de demência? Seriam os loucos tão malucos assim?! Mas este não é o problema real. A verdadeira questão é a “autoridade”. Como médicos, os doutores Stockmann e Bacamarte detém o poder de seu conhecimento científico sobre os demais concidadãos, a referendar seus atos. Assim como ocorre no âmbito político, jurídico, policial, etc. A sociedade confere a certas pessoas o aval de possuir “domínio” expresso sobre outrem. E, com certeza, o abuso deste atributo leva a desmandos e injustiças. Também aqui observamos a dicotomia entre a “maioria” e a “minoria”. Em termos de literatura comparada, Stockmann representa o “líder” saudável sendo hostilizado pelos seus opositores interesseiros e inescrupulosos, ao passo que Bacamarte é o “líder” doentio causando estupefação entre os seus conterrâneos aparentemente normais.

      O ponto focal da vida dos seres humanos em sociedade é o exercício do PODER. A estrutura da civilização terrestre não pode dispensar os PODEROSOS, em quase todos os níveis, do familiar ao internacional. Estes são a “minoria”. A esmagadora “maioria” está irremediavelmente submetida a eles. Somente numa coletividade efetivamente ANARQUISTA tal predomínio deixaria de existir, ou seria grandemente anulado. As intenções do Dr. Bacamarte eram honestas, mas os efeitos dos seus atos foram catastróficos. O que nos faz induzir que a natureza humana é extremamente susceptível de interpretações e leituras. Nada é rígido e definitivo. O choque entre o mundo psíquico interior e o universo material exterior é tão grande quanto o embate entre os SÁBIOS e os MEDÍOCRES, entre a ELITE e a GREI. Não devemos, porém, deixar de registrar que a prevalência dos primeiros (sábios/elite) é que faz o mundo caminhar, seja ela boa ou má.


      Quanto a mim, sou supremamente grato às Potências Divinas por terem me agraciado com uma existência absolutamente destituída de PRESTÍGIO. Não possuo a mínima AUTORIDADE sobre ninguém. Nem mesmo aqui no Facebook detenho algum tipo de INFLUÊNCIA. Não que tenha medo da RESPONSABILIDADE ou que duvide de minha CAPACIDADE, mas porque tal ostracismo me POUPA de forma completa das infinitas decepções e dos inesgotáveis desgastes que a sabedoria sofre ao se defrontar com a ignorância. Neste sentido, sou um feliz privilegiado. Mas, lá no fundo, desconfio que isto não irá durar muito tempo. Os Deuses estão tramando contra a minha insignificante pessoa. Eles não suportam ver tanta felicidade assim!... Não tem problema... QUE VENHA O PODER!...

domingo, 12 de junho de 2016

"Um Inimigo do Povo" - Henrik Ibsen

      A peça “Um Inimigo do Povo” foi escrita em 1882 pelo teatrólogo norueguês Henrik Ibsen. Revela o conflito entre o indivíduo e a coletividade. “A história passa-se numa cidade do interior da Noruega cuja maior fonte de renda advém de sua Estação Balneária. O Dr. Stockmann inquieta-se com as doenças que turistas e concidadãos apresentam e resolve investigar a água da cidade. Para sua surpresa, apercebe-se que a água está poluída, aparentemente devido a lançamentos de lixívia contendo impurezas dos curtumes da cidade. Homem da ciência, sente-se no dever de levar a verdade ao povo, mas a sua denúncia representará o encerramento do balneário por dois anos, além de provocar uma suspeição geral sobre as suas qualidades, mesmo depois das obras necessárias para resolver a questão. Isso causaria um transtorno para a cidade, que deixaria de lucrar com o turismo. Não denunciar o fato, contudo, vai contra os ideais de Stockmann. A poluição das águas é usada como metáfora no drama de Ibsen para denunciar a sujeira na estrutura social daquela cidade - no governo, na imprensa, no comércio e na sociedade em geral. A insistência do Dr. Stockmann em fazer prevalecer a verdade torna-o persona non grata para a população, sobretudo ao defender a ideia de que os valores daquela cidade estão sustentados sobre a mentira e de que o povo não tem a razão, ou seja, a maioria não tem o monopólio da verdade. Ele torna-se um inimigo do povo e conta apenas com o apoio de sua família e de alguns poucos membros da comunidade, que passam a sofrer represálias por conta disso. A convicção de Stockmann em relação à verdade, contudo, faz com que ele se mantenha firme em seus propósitos até ao fim, mesmo sabendo que seu relevante papel naquela comunidade jamais seria retomado.” (Wikipédia)

      O teor desta peça, estendido para o âmbito político, vai CONTRA o paradigma moderno da DEMOCRACIA, desde que a estrutura básica desta é a sobressaliência dos votos da MAIORIA sobre os da MINORIA. Ora, em muitíssimos casos, nota-se que tal superioridade é absolutamente falsa e errônea. Uma GRANDE parte da população é constituída de pessoas ignorantes e ineptas, incapazes de uma visão abrangente e profunda da vida. Apenas uma PEQUENA parcela do povo possui uma compreensão um pouco maior da complexidade social humana. E uma ÍNFIMA fatia da grei pode ser realmente considerada inteligente o bastante para dar o seu voto consciente. Quanto aos GÊNIOS, praticamente não aparecem nesta sumária estatística. Sendo assim, a Democracia é um sistema DISTÓPICO por excelência, quando o PIOR tem prevalência sobre o MELHOR. Numa sociedade UTÓPICA, os cargos governamentais ficariam sob a exclusiva responsabilidade das pessoas que mais se sobressaíssem na sociedade a nível intelectual, moral e espiritual, não referendadas nos cargos pelo absurdo sufrágio universal, mas por um amplo conselho de notáveis.

      Também podemos transferir o argumento central da peça para a internet. Reunindo milhões de pessoas num único espaço, o Facebook, o que o seu criador fez foi um MONSTRUOSO ESMAGAMENTO da inteligência pela mediocridade. É óbvio que cada qual se acha inteligente o bastante e ninguém se considera medíocre. Porém, infelizmente, a verdade é que não ocorreu um fenomenal “milagre”, com a grande MAIORIA se tornando sábia e percuciente. Aconteceu o contrário: uma pequena MINORIA inteligente conseguiu se emburrecer e embrutecer. Eu tenho um exemplo na figura de um amigo “genial”, neste famigerado Facebook. Boa parte dos seus textos não indicam ter sido escritos por alguém do seu nível. Alguns são tragicamente ridículos. Quero crer que ele está apenas “descendo o nível” para se equiparar ao rés de chão coletivo. Espero que sim. E assim, por conseguinte, sou obrigado a chegar a outra conclusão, a de que estas redes sociais não são mais do que simples DISTOPIA, embora aparente o contrário. Seria UTOPIA se houvesse uma grande quantidade delas, da mesma forma como são amplamente diversificadas as tendências humanas. Se existissem, eu iria aderir de preferência à dos ocultistas.

      Para concluir, tudo isto pode nos levar a uma valiosa lição de humildade, quando o desinflar do ego se torna uma necessidade, ao percebermos o quão ignaros e rasteiros ainda somos.

      Sejamos menos NARCISISTAS!...

sábado, 11 de junho de 2016

"Manifesto Aberto à Estupidez Humana" - Ezio Flávio Bazzo

Link com uma crítica ao livro de Ezio Flávio Bazzo, “Manifesto Aberto à Estupidez Humana”, contendo um vídeo. Fez-me lembrar “Elogio da Loucura”, do Erasmo de Roterdan.


sexta-feira, 10 de junho de 2016

Amor pelo Dinheiro

      “A educada presteza com que alguém recebe dinheiro é realmente maravilhosa, considerando que tão gravemente acreditamos que o dinheiro é a raiz de todos os males terrenos e que em hipótese nenhuma um homem endinheirado entrará no paraíso. Ah! com que alegria nos despachamos para a perdição!”

      (“Moby Dick”, Herman Melville, Abril Cultural, São Paulo, 1972, 1ª Edição, Página 29.)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Dymphne - A Santa Protetora dos Loucos - Ezio Flávio Bazzo

Dymphne: A Santa Protetora dos Loucos

Este é um livro sobre insanidade, demência e piração. Uma viagem nas pegadas do frenesi e no encalço da loucura, com suas mais variadas descrições populares, clínicas, preconceituosas, negadoras, medievais e até modernas. E não é uma história «formal» que pretendo, pelo contrário, anseio mais bem por uma história vagabunda e doméstica, desde as estradas perigosas de minha memória até o «paraíso» belga de Geel, o velho e quase mitológico shangri-la dos «dementes». Talvez no imaginário de todas as raças, a loucura seja percebida apenas como um berço em chamas, como o passo de caranguejos no interior das artérias ou como a silhueta de uma mãe esplendorosa que se recusa, a silhueta de uma mãe com tetas imensas mas vazias. Talvez apenas como um canyon com bebês berrando, a placenta sendo lançada numa imensa gamela de imbúia, como se tudo estivesse acontecendo num açougue clandestino do Distrito Federal ou numa caverna piauiense iluminada apenas pelos pingentes de estalactites e pelo brilho inocente dos olhos dos morcegos. Loucos, dementes, alucinados, pirados, insensatos... mas e quem não é? Quem não é, quando nem o grande Verlaine conseguiu burlar as suspeitas dos doutores? Quando Nietzsche mofou no hospício de Jena; quando Artaud apodreceu na clínica de Rodez; Nélligan no hospital quebequence de Saint-Jean-de-Dieu; Rawet na solidão de Sobradinho, e quando o Bandido da Luz Vermelha, durante décadas, fez doutrina no interior dos nossos manicômios? Me digam: quem não é, com todas aquelas caravelas chegando? E depois desses 500 anos? Quanto mais pesquisamos e quanto mais abrimos os olhos, mais vamos reconhecendo que o homem, na fantasia de tornar-se «civilizado», acabou construindo tanto interna como externamente, essa disposição mentirosa e esquizóide que faz da vida uma maratona de horrores. E é importante lembrar, neste momento crucial de nossa existência, que as Naves dos Loucos não navegaram apenas pelos rios da Alemanha, da Bélgica e da França, como se pensa. Elas cruzaram também os mares, em todas as direções, com os porões e as suítes repletas e inclusive, com muito mais frequência do que certos «especialistas» gostam de afirmar.

Nos demais contos, os protagonistas são artistas ou intelectuais: a escultora que fabrica gigantes de ferro para se defender da “banalidade do cotidiano”; o crítico de arte que consola seu amigo moribundo lendo para ele trechos do livro de Jó; o macabro ritual do homem que é apaixonado pela literatura russa; o professor de dramaturgia que um dia se vê impedido de deixar seu apartamento; a tragicomédia de um escritor que, para ser lido, aceita o desatinado conselho de seu amigo publicitário; um artesão que vê os bonecos que criou encenando um drama diante dos seus olhos; e, por fim, alguém que se denomina o Narrador nos apresenta um flagrante perturbador do cotidiano de uma grande cidade.


Ezio Flávio Bazzo


terça-feira, 7 de junho de 2016

Provas e Expiação X Regeneração

Sou ocultista há muitos anos. Esta é a MINHA PRAIA. Domino uma gama ampla de conhecimentos espiritualistas, não sou fanático, tenho a mente aberta e sei quando alguma informação não tem fundamento. Como esta que está no quadro abaixo. São os espíritas que sempre disseram que a Terra é um mundo de provas e expiação, pois abriga uma legião de espíritos inferiores a cometer continua e empedernidamente desde os mais bárbaros crimes até as pequenas desonestidades cotidianas. Aqui não há ninguém puro e inocente. Pois bem. Não tem nenhum cabimento estabelecer um ano específico (no caso 2010) para que, num passe de mágica, o planeta seja alçado à categoria de “regeneração”. Este termo possui o sentido de “renovação moral e espiritual”. Pressupõe que haja o estancamento de atos negativos em escala global para que uma nova era “regenerada” e “renovada” surja entre nós. Absolutamente isto não é REAL. Continua a nascer gente muito ruim e que irá cometer todo o tipo de crimes contra a Lei Divina do Amor. Os poderosos, os grandes líderes mundiais, verdadeiros Irmãos Negros, permanecerão nas trevas e nem sonham em abrir mão de seus intentos criminosos. Não há no horizonte imediato o menor sinal de uma autêntica REFORMA. Semanas atrás um amigo (também ocultista) me deu esta “boa notícia”, a de que agora estamos em “regeneração”. Não contestei na hora para evitar confabulações inúteis e querelas conflitantes. Que ele continue pensando assim, se lhe faz bem. Prefiro achar que ainda vivemos num autêntico “inferno”, onde habitam todos os tipos de seres malignos e onde são perpetradas todos os tipos de maldades. Só seremos realmente um “Planeta em Regeneração” quando se encarnarem aqui APENAS espíritos positivos. Mas isto é problema da Grande Hierarquia Espiritual Divina, a qual terá de decidir em breve o que fará conosco, ou seja, se deixará tudo do jeito que está, ou se provocará uma intervenção apocalíptica. As chances de nós terrestres nos emendarmos por nossa própria iniciativa é uma em um bilhão. É nisto que creio, embasado em 46 anos de vivências no meio esotérico. Que os espíritas me desculpem, mas nessa EU NÃO ACREDITO.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Terra Indústria e Comércio S.A.

      “Homem do Oeste. A terra de Deus não é um estabelecimento comercial.
      Aquilo que te parece brilhante logo perderá seu valor.
      Tua civilização cometerá suicídio com seu próprio punhal.
      Um ninho construído em um galho frágil não pode durar muito.”


      (Dr. Muhammad Iqbal, 1877-1938, Poeta Nacional do Paquistão.)

domingo, 5 de junho de 2016

Revolução e Libido

      Enquanto houver capitalismo haverá fome e miséria no mundo. O movimento “Occupy Walt Street” representou um grande momento de insurreição contra este modelo econômico selvagem e predador. Infelizmente, acabou. O capitalismo está absolutamente triunfante. Não há sinal de que possa futuramente ser contestado a nível global. Esta seria a revolução básica, a única realmente indispensável, posto que este sistema é a pedra angular, a estrutura fundamental da sociedade. Tal marasmo representa a ruína humana planetária. Todo ato revolucionário é criador, é a libido elevada ao mais alto grau. Sem transformações há apenas estagnação, numa humanidade estéril e conformista, carente de potência criadora. Transformamo-nos em eunucos incapazes de gerar a Revolução. Frieza e vazio será o nosso futuro, antes que a morte venha. A dinâmica da história é um caudaloso rio de ação e movimento: preferimos nos atolar nas águas insalubres do pântano da inércia. VIVA O DINHEIRO!!!... VIVA O LUCRO!!!... VIVA O CAPITALISMO!!!...

sábado, 4 de junho de 2016

Missa capitalista

Somos ADEPTOS FIÉIS do DIABO, do CAPETALISMO. As agências bancárias são os nossos verdadeiros TEMPLOS. Toda a libido desta humanidade de superfície é FINANCEIRA. Orgasmos em REAIS ilusórios, DÓLARES sadomasoquistas, MARCOS totêmicos, RUBLOS menstruados, PESOS às tonelagens. Cultos orgiásticos ao deus MAMON. Praticamos deleitavelmente a MAGIA NEGRA da celebração ao DINHEIRO. Transformamo-nos em abjetos PIGMEUS HUMANOS... ANÕES MORAIS... BACTÉRIAS ECONÔMICAS... LIXO DAS CASAS DE MOEDAS...

Tenho a ideia de escrever uma peça teatral transformando a liturgia católica e dos cultos evangélicos em uma celebração religiosa do capitalismo e do dinheiro. “Eis o DINHEIRO de Deus, aquele que GERA os pecados do mundo.” Na comunhão, os fiéis apenas beijariam uma nota de cem reais. Esta missa capitalista não seria uma comédia. As cenas teriam um teor sério, sagrado, solene. Mas, na verdade, já é desta forma mesmo que se pratica, especialmente nas religiões pentecostais. Todos nós ADORAMOS o DEUS-FINANÇA.

“(...) rezavam assim: ‘Meu Deus, fazei que as ações de Lião subam! Suave Senhor Jesus, fazei-me ganhar vinte e cinco por cento no meu Nápoles – certificados – Rothschild! Santos Apóstolos, vendei meus vinhos! Bem-aventurados Mártires, duplicai minhas rendas! Santa Maria, Mãe de Deus, Virgem Imaculada, Estrela do Mar, Jardim Fechado, hortus conclusos, dignai-vos volver os olhos propícios à modesta loja que tenho na esquina da Rua Tirechappe com a Rua Quincampoix! Torre de Marfim, fazei que a loja fronteira dê com os burros n’água!’ ” (“Napoleão, o Pequeno”, Victor Hugo, Obras Completas, Volume XVIII, Editora das Américas, São Paulo, 1958, Página 280.)

Contracapa de “Mantenha o Sistema”, de George Orwell, Editora Hemus, São Paulo (no texto interno do romance não tem esta adaptação na íntegra): “Se falo as línguas dos homens e dos anjos, mas não tenho DINHEIRO, sou como o bronze que soa ou como o címbalo que tine. E se tenho o dom da profecia, conheço todos os mistérios e toda a ciência, se tenho toda a fé, de modo a transportar montanhas, mas não tenho DINHEIRO, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens em sustento dos pobres e entregue meu corpo para ser queimado, se não tiver DINHEIRO, isto de nada me aproveita. O DINHEIRO é longânime e bondoso; não é invejoso; não é arrogante, nem se ensoberbece, não faz o que é inconveniente, não busca o seu interesse, não se irrita, não toma em conta a ofensa, não tem prazer na injustiça, mas se alegra com a verdade; ele tudo perdoa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... Ora permanece a fé, a esperança e o DINHEIRO, estes três: mas o maior deles é o DINHEIRO. – Epístola aos Coríntios, I, Cap. XIII (Adaptado).”

Trechos do romance “Mantenha o Sistema”, de George Orwell, Editora Hemus, São Paulo: “Embora eu fale as línguas dos homens e dos anjos. Mas acontece que, se não tenho dinheiro, não falo as línguas dos homens e dos anjos.” (Página 19) “...os estranhos deuses do capitalismo... (Página 58) “Na sua maneira feminina, sem palavras, ela sabia que o pecado contra o dinheiro é o supremo pecado.” (Página 64) “O dinheiro é longânime e bondoso, não se ensoberbece, não se comporta inconvenientemente, não busca o seu próprio proveito.” (Página 89)


























quinta-feira, 2 de junho de 2016

Livros de Vargas Vila

- VARGAS VILA
- Editora Prometeu

- Rosas da Tarde – 178p (Tenho)
- O Final de um Sonho – 177p – (Tenho)
- A Fonte dos Desejos – 206p (Tenho)
- Íbis – 222p (Tenho)
- Dos Vinhedos da Eternidade – 175p
- Do Rosal Pensante – 171p
- Lírio Branco – 187p
- Lírio Vermelho – 186p
- Lírio Negro – 193p
- Aura, ou as Violetas – 208p
- Flor do Lodo – 208p
- A Semente – 212p
- Aurora Rubra – 232p
- A Voz das Horas – 186p
- O Caminho do Triunfo – 203p
- O Caminho das Almas – 166p
- Filhote de Leão – 170p
- O Minotauro – 161p
- Salomé – 186p
- A Loucura de Job – 185p
- Os Párias – 236p
- A Conquista de Bizâncio – 202p

- 22 livros
- 4.250p

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Assim Falou Vargas Vila - Ezio Flávio Bazzo

ASSIM FALOU VARGAS VILA

Foi num amontoado de livros desencapados e prestes a serem jogados no lixo que lá por 1968, focinhando numa loja de objetos usados, deparei-me, por primeira vez, com um exemplar do Rosal pensante, de autoria de um sujeito até então desconhecido e com um nome ridículo: José Maria de la Concepción Apolinar Vargas Vila Bonilla, nascido em 1860 na Colômbia e morto em 1933 em Barcelona. Só pensei em negociar o preço daquele verdadeiro restolho depois de ficar hipnotizado com a leitura destas duas linhas:

Curar-se de certas excentricidades, é fazer como os outros: cretinizar-se; a primeira condição de ser coletivo é ser abjeto.

Talvez hoje esta frase não tenha mais o efeito iconoclasta daquela época, quando tinha apenas dezenove anos, vivia no mundo da lua, confinado em casas estudantis, embriagado de idealismos, sem a mínima idéia de que o homem era um «animal méchant par excellence», e quando as veraneios chapas-frias do DOPS e do exército, em seu teatro ditatorial e burlesco subiam e desciam em alta velocidade, vinte e quatro horas por dia pelas ruas e becos gelados de Curitiba. O livro, além de ser um viveiro de traças, também fedia. De cócoras, fascinado, li e reli um segundo parágrafo:

"O escritor que fala por diminutivos, é porque pensa diminutamente; os heróis de Homero, não combatiam com alfinetes; quando leio versos cheios de «cabecinhas loiras», «virgenzinhas queridas», «manecitas liliales», penso instintivamente, em todos esses rimadores, com almas de costureiras sentimentais, que infestam nosso Parnaso..."

Foi meu primeiro e definitivo encontro com Vargas Vila, esse blasfemo furacão do verbo que não se assemelhava em nada aos da zoologia literária da época. Foi minha primeira leitura desse contemporâneo de Ruben Dario, autor de umas dezoito mil páginas, entre as quais as do famoso Íbis, texto que por ter levado diversas pessoas a se matarem ficou conhecido como a Bíblia do Suicídio.

Sem falar dos anarquistas e dos desvairados mexicanos que de 1979 a 1981 invadiam meu pequeno apartamento da calle Copilco a qualquer hora do dia e da noite para discutir os textos de Vargas Vila e nem da prostituta goiana que mantinha permanentemente sobre o criado mudo, ao lado de uma oração de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, um exemplar de seu Lírio Negro, foi o Jorge, do Armazém do livro usado de Taguatinga quem, em 1997, ligou para comunicar-me que havia comprado a obra vargasviliana completa da viúva de um dentista de Anápolis. Fechamos negócio por telefone. Nos dias seguintes, sob os estrondos da tempestade que caiu sobre a cidade, folhear um por um daqueles volumes publicados pela Sopena de Barcelona, e ainda por cima, rabiscados pelo dentista recém morto, foi uma viagem quase kardecista e quase nirvânica.

Estava lá, tudo lá o pouco que já sabia e tudo o que estava por saber da obra desse novelista militante, panfletário, jornalista, niilista, ateu, anticlerical e obsessivamente indignado com a palhaçada fastidiosa reinante na América Latina, principalmente com o carneirismo vergonhoso de sua política e de suas assembléias. Exageradamente ético, erótico e libertário, (apesar de ter vivido uma relação simbiótica e doentia com a mãe), V.V. odiava a velharia supersticiosa e os caudilhos criminosos que se sucediam por todos os países do continente, da mesma maneira que detestava a dominação imperialista dos yankees, contra quem escreveu Ante los bárbaros. Banido de sua terra natal viveu na Venezuela e em NY onde, em 1892, trabalhou como redator do jornal anticlerical Progresso e fundou as revistas Hispano-América e Némesis. Com sua mudança definitiva para a Europa, incluiu em sua agenda libertária a luta contra as conhecidas máfias intelectualistas, contra os fabricantes de filosofias para entregadores de pizza e contra os conhecidos PHDéspotas que só se valiam da escrita para ruminar e puxar o saco de quem estava no poder.

Apesar de toda sua erudição, Vargas Vila foi também um escritor popular, lido compulsivamente pelos marinheiros, pelos artesãos, pelos presidiários e marginais de todos os calibres. Contemporâneo de Freud, admirador de Ibsen, amigo de Pompeyo Gener e leitor de Stirner, deve ter navegado exaustivamente tanto pela psicanálise como pelo anarquismo individualista e ter arrancado daí não apenas o sentimento negativo com o qual construiu seu niilismo, mas também a sacação subterrânea do Ser, através da qual deu realidade e vigor tanto à sua filosofia como à sua análise dos homens, do mundo e da política latino americana, dessa parte quase maldita do continente, com seus sucessivos ladinos e empedernidos governantes de turno.

Com seus livros, sua vida e seu discurso radical, não apenas contra a ignorância e a bestialização social, mas também contra o absurdo da existência e contra todas as hipóteses divinas (Deus não me expulsou do céu, eu sim expulsei Deus de meus céus interiores. Nisso fui maior que Satã), era previsível que fosse abrir frentes de indignação, de ódio e de inimizades por todos os lados, mas, principalmente, entre os apóstolos da demagogia. Se nunca se rendeu a elas, foi porque era doentiamente convicto de que

"a verdadeira eloqüência deve produzir sobre os povos o efeito do furacão sobre as ondas, o efeito das chamas sobre o feno seco, da chispa sobre a pólvora, isto é, deve produzir a tormenta, o incêndio, a explosão e a tragédia irremediável".

E mais:

"Que aquele que põe fé nos outros, perde a única fé que salva: a fé em si mesmo".

Na Espanha de Franco seus livros foram marcados com o ponto vermelho da censura e na Colômbia a igreja ameaçava excomungar quem lesse suas novelas. Seus textos e fotos chegaram a ser queimadas em praça pública. "Em suas obras não é apenas o erotismo sensualista do naturalismo o que se respira, -dizia o padre Jesús M Ruano- ali se faz apoteose do pecado, a incitação aos crimes mais repugnantes. Ali brota como emanação pútrida o ódio sistemático à pureza dos costumes, à dignidade, à generosidade e à racionalidade do homem". Além dos padres e dos déspotas políticos, também os escritores que sempre florescem em abundância nos quartinhos de fundo dos palácios, das paróquias, da imprensa oficial e dos antros diplomáticos não se cansavam de tentar desqualificá-lo.

Não escrevo para deleitar, escrevo para combater, contestava–lhes Vargas Vila, em Prosas-laudes.

Em 1952, dezenove anos após sua morte, o crítico José J. Guerra afirmava em um artigo que em todos os livros de Vargas Vila "desde a primeira até a última página só se encontrava gritos satânicos de rebelião e de insultos contra tudo o que existe de mais nobre e mais sagrado para o homem".Até o velho Borges, o ilustre, cego e erudito diretor da Biblioteca Nacional Argentina, na única vez que fez referência a Vargas Vila, em Historia de la Eternidad, publicada no ano da morte de Vargas Vila (1933), no capítulo intitulado Arte de injuriar, referindo-se a uma crítica deste a Santos Chocano, tentou eclipsá-lo.

E é exatamente por isso, por Vargas Vila ter sido proibido por Franco, excomungado pela igreja colombiana e por ter causado tanta indignação entre a canalha detratora que o estamos revisitando e republicando.

Ressuscitá-lo no Brasil, principalmente em Brasília, nesta cidadela de caixotes, de burocratas errantes, de botecos, de novos ricos delirantes, de filhinhos e netinhos de agentes da ordem, de escritorzinhos engravatados e de shoping centers, neste momento histórico e político broxante, com a América Latina ainda mergulhada em seus esgotos e ainda de joelhos diante da mesma quadrilha de sua época, é quase um dever de quem pensa e de quem tem desprezo pela pobreza mental generalizada do cotidiano. É quase uma obrigação de quem tem horror a esses magotes ainda não nascidos plenamente que além da televisão e das feijoadas só conseguem dialogar sobre os ângulos e os pregos da cruz. Dever de quem se sente asfixiado no meio de toda essa ignorância instituída, desse atraso social incurável onde todos os projetos pretensamente revolucionários foram para a merda, e onde a vida se resume em falar mal dos outros, em ir às soirées, ter um emprego, uma casa, uma falsificação de Picasso, um carro e o certificado de filiação a uma das tantas e nefastas agremiações idólatras, idealistas e teológicas que, apesar do poder difamatório que dispõem, não são mais do que prostíbulos de infâmia.

Sim, é oportuno reeditá-lo neste momento, quando os capuchinhos da crítica literária nacional não conseguem fazer outra coisa além de bajular os vivaldinos do momento ou de reincensar Guimarães Rosa, Machado de Assis, Graciliano e outros vaselinas. Ah, será um gozo imenso fazer Vargas Vila circular pela cidade e por sua periferia onde a ralé desiludida se despedaça todos os dias a tiros, facadas e pauladas depois de ouvir os pastores, os padres e os gurus mentindo descaradamente nos palanques, nas dioceses ou nos programas de televisão! Acreditem: será um gozo imenso trazê-lo para o cenário, principalmente hoje, quando os mercenários, as matronas e os religiosos ocupam praticamente 90% das cadeiras no Parlamento. Quando os banqueiros, os donos de terras, os políticos, os representantes da imprensa, dos sindicatos, das igrejas e das indústrias (todo esse espectro vil das antigas monarquias) estão cada vez mais íntimos e próximos uns dos outros e quando são vistos juntos, enchendo a cara nos mesmos banquetes e fazendo pouco caso das desgraças que se abatem sobre cinqüenta ou sessenta milhões de pessoas. Quando são vistos abraçados tramando publicidades enganosas, ludibriando aos adolescentes com esportismos e porcarias tecnológicas, aos velhos com uma compaixão burocrática e com medicamentos falsificados e, às mulheres, com o modismo homomaníaco, obsessivo e burro de sempre.

Será mais do que oportuno republicar Vargas Vila agora, em português (esse idioma de pescadores), quando os estelionatários de todas as classes estão afinados e irmanados nos assuntos do agiotismo internacional, usando os mesmos ternos, as mesmas cuecas, as mesmas máscaras, as mesmas loções e a mesma linguagem. Quando a bandidagem republicana está silenciosamente rateando os fundos do Tesouro Nacional, devastando as matas nativas para plantar soja, loteando e explorando comercialmente os míseros prazeres e as míseras possibilidades de lazer acessíveis a uma multidão moribunda e deprimida que, por sua vez, não sabe fazer outra coisa além de competir, perseguir e infernizar-se mutuamente a vida, seja no confinamento doméstico ou nas arquibancadas desse prodigioso e olímpico circo. (y, ellos, se embriagan con el humo de la adulación, que la prosa mística de los conservadores, y la retórica plebeya de los jacobinos, les administran a alta dosis, y se creen eternos…). Delírio e desatino que realmente ninguém sabe quando terá fim, uma vez que os setores ditos cultos da atualidade –da literatura ao cinema, da tecnologia ao turismo e à sociologia etc, etc-, conspiram descaradamente para o engrandecimento da putaria política e para o aprofundamento da idiotia coletiva.

Por fim, este resgate da obra de Vargas Vila representa a realização máxima de minha vida de leitor. Considero esta releitura e esta publicação de seus textos como a mais importante de minhas contribuições na tarefa insólita de diagnóstico e de desmascaramento dessa opereta fajuta e desse music-hall pseudo-civilizatório em que nos atordoamos. Desse picadeiro patético onde até a pequenez própria –parafraseando Otto Fenichel- pode ser motivo de gozo quando serve para dar ao idiota a ilusão de que participa da grandeza do outro. Além de um maremoto nas consciências dos leitores, desejo que este livro também estremeça as estruturas frígidas e canônicas do palavrório irracional vigente e da língua.

Ezio Flavio Bazzo
Num café da Mouraria (Lisboa)