terça-feira, 14 de junho de 2016

"O Alienista" - Machado de Assis

      Quando estava redigindo o texto sobre a peça “Um Inimigo do Povo”, do Ibsen, escrita em 1882, lembrei-me de “O Alienista”, do Machado de Assis, e depois descobri que foi publicado originalmente neste mesmo ano. Eis aí uma bela sincronicidade.

      Esta novela do Machado narra a história de outro médico, o Dr. Simão Bacamarte. Ele abre na sua cidade, Itaguaí-RJ, um manicômio. No início, os internos eram realmente loucos. Porém, o alienista começa a internar pessoas sem distúrbios mentais. E a trama vai se tornando complexa, com revoltas e reviravoltas, até que o Dr. Bacamarte descobre ser o único louco da cidade e se tranca sozinho na Casa Verde, o hospício que ele próprio criara.

      O humorismo machadiano trata de um tema complexo da psique humana, ou seja, os tênues limites entre sanidade e loucura. O que é normalidade? Desvios de caráter não seriam uma forma de demência? Seriam os loucos tão malucos assim?! Mas este não é o problema real. A verdadeira questão é a “autoridade”. Como médicos, os doutores Stockmann e Bacamarte detém o poder de seu conhecimento científico sobre os demais concidadãos, a referendar seus atos. Assim como ocorre no âmbito político, jurídico, policial, etc. A sociedade confere a certas pessoas o aval de possuir “domínio” expresso sobre outrem. E, com certeza, o abuso deste atributo leva a desmandos e injustiças. Também aqui observamos a dicotomia entre a “maioria” e a “minoria”. Em termos de literatura comparada, Stockmann representa o “líder” saudável sendo hostilizado pelos seus opositores interesseiros e inescrupulosos, ao passo que Bacamarte é o “líder” doentio causando estupefação entre os seus conterrâneos aparentemente normais.

      O ponto focal da vida dos seres humanos em sociedade é o exercício do PODER. A estrutura da civilização terrestre não pode dispensar os PODEROSOS, em quase todos os níveis, do familiar ao internacional. Estes são a “minoria”. A esmagadora “maioria” está irremediavelmente submetida a eles. Somente numa coletividade efetivamente ANARQUISTA tal predomínio deixaria de existir, ou seria grandemente anulado. As intenções do Dr. Bacamarte eram honestas, mas os efeitos dos seus atos foram catastróficos. O que nos faz induzir que a natureza humana é extremamente susceptível de interpretações e leituras. Nada é rígido e definitivo. O choque entre o mundo psíquico interior e o universo material exterior é tão grande quanto o embate entre os SÁBIOS e os MEDÍOCRES, entre a ELITE e a GREI. Não devemos, porém, deixar de registrar que a prevalência dos primeiros (sábios/elite) é que faz o mundo caminhar, seja ela boa ou má.


      Quanto a mim, sou supremamente grato às Potências Divinas por terem me agraciado com uma existência absolutamente destituída de PRESTÍGIO. Não possuo a mínima AUTORIDADE sobre ninguém. Nem mesmo aqui no Facebook detenho algum tipo de INFLUÊNCIA. Não que tenha medo da RESPONSABILIDADE ou que duvide de minha CAPACIDADE, mas porque tal ostracismo me POUPA de forma completa das infinitas decepções e dos inesgotáveis desgastes que a sabedoria sofre ao se defrontar com a ignorância. Neste sentido, sou um feliz privilegiado. Mas, lá no fundo, desconfio que isto não irá durar muito tempo. Os Deuses estão tramando contra a minha insignificante pessoa. Eles não suportam ver tanta felicidade assim!... Não tem problema... QUE VENHA O PODER!...

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