segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Cálice de fel

      O Joãozinho 30 fez aquele desfile fantástico em cima do LIXO. Gênio! Mas é exatamente isto, meus queridinhos e minhas queridinhas, o que somos: pura e simplesmente LIXO... REFUGO... DEJETO... Antes da internet tudo ficava escondido. Agora, não. Nas redes sociais, primeiro no Orkut e atualmente no Facebook, nós exteriorizamos despudoradamente todo o nosso VAZIO, todas as nossas MESQUINHARIAS, toda a nossa SUPERFICIALIDADE, todas as nossas DEFICIÊNCIAS. Um tremendo SHOW para quem possui um nível um pouco mais elevado de sabedoria e compreensão. Um espetáculo patético e ridículo. Tenho tentado de forma heroica e desesperada permanecer num patamar superior. Mas a MEDIOCRIDADE crassa de forma AVASSALADORA. Sinto-me como o demente Dom Quixote arremetendo contra moinhos de ventos gigantescos. Uma guerra irremediavelmente perdida. Um esforço totalmente nulo e inútil. Mas eu continuo, jamais desisto, não porque nutro alguma esperança de melhora, mas porque este posicionamento É A MINHA LIBERTAÇÃO deste planeta horrivelmente insano e maligno. Posso não possuir estofo de gênio, mas JAMAIS irei me rebaixar. O grupo que criei – Udigrudi Tupiniquim – é propositalmente amplo e aberto para dar oportunidades às mais variadas intervenções. Tenho tentado entender o que está acontecendo, mas não consigo. O Facebook é produto do Gênio do Mal, aliás, inteligentíssimo!!!... Nivelou por baixo todo o LIXO que somos, neste gigantismo absurdo. Tudo é proposital, nada é aleatório. E onde está a LUZ?!... Escondidinha e bruxuleante dentro de NÓS, quase a se extinguir. Este fenômeno virtual é uma experiência muito recente para que possamos compreender toda a sua extraordinária complexidade. E este marasmo apocalíptico está acontecendo com toda a humanidade e em todos os continentes. OH! PAI! AFASTA DE MIM ESTA TAÇA!... Para dar uma leve sugestão do que estou sentindo, aqui vai um poema e uma música.

Por que, ó Sagrado, sobre a minha vida
Derramaste o teu verbo?
Por que há de a minha partida
A coroa de espinhos da verdade [?]
Antes eu era sábio sem cuidados,
Ouvia, à tarde finda, entrar o gado
E o campo era solene e primitivo.
Hoje que da verdade sou o escravo
Só no meu ser tenho [,] de a ter [,] o travo,
Estou exilado aqui e morto vivo.

Maldito o dia em que pedi a ciência!
Mais maldito o que a deu porque me a deste!
Que é feito dessa minha inconsciência
Que a consciência, como um traje, veste?
Hoje sei quase tudo e fiquei triste...
Porque me deste o que pedi, ó Santo?
Sei a verdade, enfim, do Ser que existe.
Prouvera a Deus que eu não soubesse tanto!

Fernando Pessoa – 1932


Suporto os cravos daninhos,
bebo o fel desta agonia, 
dói a coroa de espinhos
na cruz da sabedoria.
(Marcos Nunes Filho)

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