"Estamos vivemos numa sociedade dopada por medicamentos, na qual a
grande autoridade é o médico. Temos agido como se tudo o que é da vida
fosse uma patologia, transformando, por fim, a própria vida numa
patologia. Como se a tristeza fosse uma patologia, como se a angústia
fosse uma patologia, como se a ansiedade fosse uma patologia. E no lado
oposto, há o imperativo de felicidade de consumo. De certa maneira, eu
sou uma defensora do mal-estar. Nesse momento histórico que estamos
vivendo, ser feliz e saltitante como um carneiro de desenho animado é o
que deveria ser preocupante, é o que deveria fazer tocar a sirene. Eu
defendo o mal-estar como um movimento, como algo ativo, algo
transformador. Porque o grande risco de silenciar com medicamentos
aquilo que é da vida é não elaborar, não pensar, não reagir, não
transformar, não fazer marca do vivido. E com isso a gente perde muito.
Acho que, em parte, as séries, os filmes, a literatura de zumbis, fazem
tanto sucesso porque o mundo está cheio de mortos vivos, paralisados e
anestesiados, não só, mas também por medicamentos. Acho que o mais
triste é essa vida morta."
Eliane Brum, jornalista e escritora.
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