“Mister Eco” ficou famoso no Brasil
quando foi jurado no Programa Flávio Cavalcante, da extinta TV Tupi, na década
de 70. A dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho chegou a compor uma música
satírica, usando o termo “eco” como deixa. Começava assim: Bom dia Mister Eco –
Eco, eco, eco, eco... No último verso (“Tua bela moribunda”) o “eco” sumia. O
professor e jornalista baiano Eustórgio Antônio de Carvalho Júnior adotou o
pseudônimo de Mister Eco em 1939, ao tornar-se crítico de música popular. É ele
mesmo que irá inquirir na TV o músico juiz-forano Armando Aguiar (Mamão) a
respeito da música “Tristeza Pé no Chão”, passagem esta algumas vezes comentada
pelo Roberto Medeiros, o verdadeiro autor da letra, como é sabido por todos os
membros da Turma do Beco.
Clara Nunes acabara de cantar o grande
sucesso – “Tristeza pé no chão” – de Roberto Medeiros e Armando Aguiar, o
“Mamão”. As palmas ainda não haviam cessado, quando Mister Eco pegou o
microfone e perguntou se o autor da letra estava presente. “Mamão”, que fizera
a música, se apresentou como o autor da
letra, embriagado que estava pelo sucesso.
O jornalista recitou a primeira estrofe.
Dei
um aperto de saudade no meu tamborim,
Molhei
o pano da cuíca com as minhas lágrimas,
Dei
meu tempo de espera para a marcação
E
cantei
A
minha vida na avenida sem empolgação.
- Foi o senhor que fez este beleza de
letra? - indagou Mister Eco.
- Sim senhor - estufou o peito “Mamão”.
- Que tipo de versos o senhor usou
para fazê-la ficar tão bonita?
- Versos rimados, de minha inspiração.
Fui fazendo e quando vi tava pronta. - Respondeu “Mamão”, tentando fazer-se
autor da letra e da música.
Mais alguns minutos de conversa e o
jornalista percebeu a insuficiência literária do autor da música.
- Mentira! - bradou Mister Eco. - O
senhor nunca teria condição de escrever uma beleza dessas. Quem fez é poeta e
culto. Sabe elaborar. Usou um verso abstrato e um concreto em toda a melodia.
Isso é dificílimo. O senhor não tem preparo para tanto.
“Mamão”, sem graça por ter sido apanhado, ainda tentou
falar qualquer coisa mas o seu linguajar o denunciava, e, quanto mais falava,
via-se que não tinha mesmo capacidade para elaborar uma construção tão difícil
e perfeita.
Lá em Juiz de Fora, os que conheciam a história riam. O
verdadeiro autor da letra, Roberto Medeiros, não pudera assinar a composição na
época, por pertencer à comissão julgadora da Funalfa, que iria julgar o
concurso de músicas feitas em Juiz de Fora. Se desse conhecimento de que era o
autor da letra de “Tristeza pé no chão” e esta vencesse, poderia ser acusado de
favorecimento.
Sem favorecimento algum, a música venceu
o concurso de Juiz de Fora e outros, tornando-se um dos maiores sucessos, na
voz de Clara Nunes. E devemos reconhecer que a melodia é muito bonita.
Diz o próprio Mamão:
“No
Brasil, houve mais de 30 gravações e, no exterior, umas dez. Foi gravada no
Japão, foi interpretada pelo Zeca Baleiro, pela Alcione. ‘Tristeza pé no chão’
ficou 16 semanas nas paradas de sucesso. Passando em frente às lojas do Ponto
Frio e da Mesbla, no centro do Rio de Janeiro, que vendiam aqueles aparelhos de
som imensos, com caixas enormes, bonitas, percebi que em todas as lojas estava
tocando ‘Tristeza pé no chão’. Tocava, terminava, e o cara punha de novo. Em
frente às lojas havia pessoas ouvindo e pedindo para colocar novamente, e eu
ali, no meio delas, pensando: ‘Se eu falar que a música é minha ou vou apanhar
ou levar uma vaia que não tem tamanho’. Foi uma emoção muito forte ver as
pessoas pedindo para ouvir minha música novamente.”
No livro "História Recente da Música Popular Brasileira em Juiz de Fora (1945 a 1975)", Edição dos Autores, Juiz de Fora-MG, 1977, páginas 375-376, Mamão declara:
"No começo daquele ano, eu estava sentindo que alguma coisa forte, marcante, me rondava a ideia. Frases, versos, trechos de melodia. Aos poucos, como é minha maneira, fui firmando pedaços. O refrão, me recordo, saiu no bar do Pythágoras, o Teorema. Mostrava aos amigos compositores alguns trechos para apreciação (Roberto Medeiros me deu muita 'pala' e mesmo criou versos: '...No surdo som da minha surda...' - que não saiu na gravação da Clara - e '...manchou o verde esperança da nossa bandeira...' - ele é Juventude Imperial doente -, entre outros) e debate dos seus mínimos detalhes."
Mas esta questão de autoria e egos é irrelevante. O que importa é a beleza da música, que já pertence à galeria das melhores canções da MPB.
No livro "História Recente da Música Popular Brasileira em Juiz de Fora (1945 a 1975)", Edição dos Autores, Juiz de Fora-MG, 1977, páginas 375-376, Mamão declara:
"No começo daquele ano, eu estava sentindo que alguma coisa forte, marcante, me rondava a ideia. Frases, versos, trechos de melodia. Aos poucos, como é minha maneira, fui firmando pedaços. O refrão, me recordo, saiu no bar do Pythágoras, o Teorema. Mostrava aos amigos compositores alguns trechos para apreciação (Roberto Medeiros me deu muita 'pala' e mesmo criou versos: '...No surdo som da minha surda...' - que não saiu na gravação da Clara - e '...manchou o verde esperança da nossa bandeira...' - ele é Juventude Imperial doente -, entre outros) e debate dos seus mínimos detalhes."
Mas esta questão de autoria e egos é irrelevante. O que importa é a beleza da música, que já pertence à galeria das melhores canções da MPB.
Prezado Marcos,
ResponderExcluirMuito obrigado por relatar este peculiar caso, desta beleza de canção (letra e música belíssimas) de Roberto Medeiros e Mamão. Parabéns pelo excelente texto.
E Mister Eco? Você sabe mais alguma coisa deste hoje esquecido jornalista e jurado de TV? Ele já faleceu?
O real nome dele, revelado por você no texto, já é um "achado" e tanto pois eu desconhecia que o famoso "Mister Eco" se chamava Eustórgio Antonio de Carvalho Júnior, baiano inclusive.
Grande abraço, obrigado de novo e, caso possa me dizer,me diga o destino de Mister Eco.
Cássio
Segundo o blog Folhinha Evangélica, mantido pelo Professor José Alfredo Torres Pereira, numa postagem de 30 de setembro de 2010, o jornalista conhecido como "Mister Eco" morreu em 1982, no Rio de Janeiro.
Excluirhttp://professorjosealfredotorrespereira.blogspot.com/2010/09/folhinha-evangelica_30.html
Segundo o blog Folhinha Evangélica, mantido pelo Professor José Alfredo Torres Pereira, numa postagem de 30 de setembro de 2010, o jornalista conhecido como "Mister Eco" morreu em 1982, no Rio de Janeiro.
ResponderExcluirhttp://professorjosealfredotorrespereira.blogspot.com/2010/09/folhinha-evangelica_30.html
Muito obrigado pelo link e pela informação, Gerson.
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