sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Turma do Beco 5 – Décio e o Drácula (Parte 3)

      Trinta minutos após, quando estava a ajeitar uns objetos no armário, ela ouviu tocarem a campainha do apartamento. Foi atender. Deparou-se com três homens trajados de branco. Um deles trazia uma estranha vestimenta nas mãos. O mais forte deles perguntou:
      - É aqui que mora o sr. Carlos Décio?
      Ela respondeu:
      - Sim. O que querem com ele?!...
      O sujeito declarou:
      - Viemos levá-lo para o manicômio... Com licença...
      E foram entrando, sem esperar o convite, dirigindo-se diretamente ao quarto do Décio. A mulher, muda de espanto, seguiu-os. Estes penetraram no citado cômodo e agarraram violentamente a sua presa, que reagiu com veemência, aos gritos de “SOCORRO”, tentando inutilmente soltar-se, esbravejando, esperneando, xingando, enquanto era colocado numa camisa de força...
      - EU NÃO ESTOU LOUCO!... ME SOLTEM!... SEUS CANALHAS!... EU NÃO ESTOU LOUCO!... ME SOLTEM!...
      Incapaz de resistir à força de seis braços, foi arrastado até a sala, depois até o corredor do prédio, e, por fim, os quatro entraram no elevador, com o prisioneiro a se debater inutilmente, aos gritos. A tudo a mulher assistiu, sem dizer uma palavra sequer, bestificada. Deixando a porta da sala aberta, ela sentou-se no sofá da sala, passada!... E aos poucos foi recobrando o senso. “Três amigos fiéis”... Uma onda de raiva incontida lhe subiu à cabeça. E teve uma ideia. Pegou o batom na bolsa e escreveu com ele, dezenas e dezenas de vezes, em todas as paredes, móveis e objetos que se achavam à disposição, a palavra “ADEUS”... Apanhou a sua bolsa e saiu do apartamento batendo a porta, o furor personificado.
      Na rua, pegou um táxi para casa. Horas depois, mais calma, considerou que foi impecável a atuação dos quatro homens, principalmente do Décio. E arrependeu-se da atitude que tomou, sujando a casa com o batom. No final da noite, decidiu ir até o Banco no dia seguinte para se desculpar com o meu amigo. E foi o que fez. Ao chegar no local, na segunda-feira, procurou uma funcionária que trabalhava numa mesa em frente à sua sala.
      - Bom dia, senhorita. Eu gostaria de falar com o Carlos Décio.
      A funcionária levantou os olhos para a mulher e, com o semblante triste e desolado, falou:
      - Lamento dizer... mas o Décio... foi internado ontem num hospício... Coitadinho!... Tão jovem!... Um excelente colega!... Sinto muito!... Estamos todos consternados!...

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