Trinta minutos após, quando estava a
ajeitar uns objetos no armário, ela ouviu tocarem a campainha do apartamento.
Foi atender. Deparou-se com três homens trajados de branco. Um deles trazia uma
estranha vestimenta nas mãos. O mais forte deles perguntou:
- É aqui que mora o sr. Carlos Décio?
Ela respondeu:
- Sim. O que querem com ele?!...
O sujeito declarou:
- Viemos levá-lo para o manicômio... Com
licença...
E foram entrando, sem esperar o convite,
dirigindo-se diretamente ao quarto do Décio. A mulher, muda de espanto,
seguiu-os. Estes penetraram no citado cômodo e agarraram violentamente a sua
presa, que reagiu com veemência, aos gritos de “SOCORRO”, tentando inutilmente
soltar-se, esbravejando, esperneando, xingando, enquanto era colocado numa
camisa de força...
- EU NÃO ESTOU LOUCO!... ME SOLTEM!...
SEUS CANALHAS!... EU NÃO ESTOU LOUCO!... ME SOLTEM!...
Incapaz de resistir à força de seis
braços, foi arrastado até a sala, depois até o corredor do prédio, e, por fim,
os quatro entraram no elevador, com o prisioneiro a se debater inutilmente, aos
gritos. A tudo a mulher assistiu, sem dizer uma palavra sequer, bestificada.
Deixando a porta da sala aberta, ela sentou-se no sofá da sala, passada!... E
aos poucos foi recobrando o senso. “Três amigos fiéis”... Uma onda de raiva
incontida lhe subiu à cabeça. E teve uma ideia. Pegou o batom na bolsa e
escreveu com ele, dezenas e dezenas de vezes, em todas as paredes, móveis e
objetos que se achavam à disposição, a palavra “ADEUS”... Apanhou a sua bolsa e
saiu do apartamento batendo a porta, o furor personificado.
Na rua, pegou um táxi para casa. Horas
depois, mais calma, considerou que foi impecável a atuação dos quatro homens,
principalmente do Décio. E arrependeu-se da atitude que tomou, sujando a casa
com o batom. No final da noite, decidiu ir até o Banco no dia seguinte para se
desculpar com o meu amigo. E foi o que fez. Ao chegar no local, na
segunda-feira, procurou uma funcionária que trabalhava numa mesa em frente à
sua sala.
- Bom dia, senhorita. Eu gostaria de
falar com o Carlos Décio.
A funcionária levantou os olhos para a
mulher e, com o semblante triste e desolado, falou:
- Lamento dizer... mas o Décio... foi
internado ontem num hospício... Coitadinho!... Tão jovem!... Um excelente
colega!... Sinto muito!... Estamos todos consternados!...
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