quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Diarreias e hemorroidas "artísticas"

Compartilhei de um grupo anarquista e fiz o comentário abaixo:





Eu sou anarquista, revolucionário, iconoclasta, o diabo a quatro, mas tenho algo que é essencialmente HUMANO: BOM GOSTO, ESTESIA, SENTIMENTO DO BELO. Em Arte sou de tendência CLÁSSICA. Esta peça é de um KITSCH quase absoluto. "Arte" grotesca, um reflexo de toda a DECADÊNCIA que começou a se instalar no mundo no séc. XIX com a revolução industrial. O diretor deste lixo, os atores e os espectadores, VÃO TODOS T.............


Quem falou sobre o CU com propriedade (trata-se do DESINFLAR DO EGO) foi o nosso gênio Campos de Carvalho:

“Uma bela noite, porém, após ter passado toda a tarde em companhia de minha vetusta e ardente protetora, e como me houvesse excedido um pouco em minhas doses habituais de whisky e de champagne, deu-se o imprevisto e o inevitável: - Em pleno salão de Mme. Martínez y Viola, descendente direta da papisa Joana, quando declamava uns versos fesceninos e grandiloqüentes o laureado poeta Silvano dal Monte, eu não me contive e bradei com todas as forças dos meus pulmões algumas duras verdades que, mais cedo ou mais tarde, teria mesmo que lançar no rosto de toda aquela gente reunida em torno de mim e vivendo à custa de meus elogios diários ou hebdomadários. Algo assim neste estilo, se não me falha a memória: - ‘Nem parece que todos vós tendes intestinos e, na ponta desses intestinos, um lamentável cu, exatamente igual ao que têm vosso açougueiro, vosso chofer, vosso camareiro, vossos cachorros e vossos cavalos de raça. Vosso cu é a melhor arma que tendes para afugentar os maus pensamentos, que são aqueles que vos afastam da simplicidade humana e da humana aceitação da vida – e é para o vosso cu que vos conclamo olheis diante do espelho, se preciso de-joelhos e com uma vela na mão para enxergar melhor, toda vez que vos sentirdes possuídos de um orgulho oceânico e vos julgardes tão poderosos quanto vosso Deus, que pelo menos (que eu saiba) não tinha nenhum cu à vista.’ ” (“A Lua Vem da Ásia”, Campos de Carvalho, Editora Codecri, Pasquim, Rio de Janeiro, 1977, 3ª Edição, Página 132.)

E não posso deixar de citar o grande BELBO de "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco, com o seu "DESTAPA O RABO"...

O canal da moça:

Herança servil

      “Não se deixem enganar pelos patifes cheios de unção que falam da santidade do trabalho e do serviço cristão que os homens de negócios prestam aos seus semelhantes. Tudo isso são mentiras. O trabalho de vocês não passa duma tarefa repugnante e desagradável, mas que infelizmente é necessária por causa da loucura de nossos antepassados. Eles acumularam uma montanha de lixo, e é preciso que vocês fiquem a trabalhar dia e noite com suas pás procurando remover o monturo, de medo que o fedor dele os envenene e mate; é preciso que vocês trabalhem para respirar, maldizendo a memória daqueles insensatos que lhes deixaram todo esse trabalho ignóbil por fazer. Mas não procurem entregar-se-lhe de coração, fingindo que esse sujo trabalho mecânico é uma necessidade nobre. Não é verdade; e o único resultado que vocês obterão dizendo e crendo nisso será abaixar a nossa humanidade ao nível dessa necessidade infecta. Se vocês acreditam nos negócios, como no serviço e na santidade do trabalho, vocês se transformarão simplesmente em idiotas mecanizados durante vinte e quatro horas, das vinte e quatro que tem um dia.”


      (“Contraponto”, Aldous Huxley, Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1973, Página 344.)

Turma do Beco 20 – A ousadia demente do Candinho

            Quando eu era adolescente, morando em Argirita, trabalhei um tempo no escritório da Cooperativa de Leite, sendo nesta época seu presidente o sr. Cândido Pereira de Almeida. E quando mudei para Juiz de Fora em 1966, arrumei pouco tempo depois um emprego de cobrador na Sapataria Luzmar. A primeira cobrança que fiz foi na casa de um tal de Cândido Pereira de Almeida. Os homônimos não me deixaram esquecer. Trata-se do poeta Candinho, membro do NUME e do Beco.
      Nos primeiros dias da ditadura militar, em abril de 1964, ao ver um soldado do exército infringir os direitos constitucionais de um cidadão, o Candinho, que era advogado, em nome da liberdade, deu voz de prisão ao militar.
      Aquele gesto, que ia da extrema temeridade à pura loucura, foi assistido por alguns amigos intelectuais, os quais se achavam nas proximidades. Um deles, para salvar a pele do amigo poeta, foi obrigado a intervir. Dirigiu-se ao soldado mais ou menos nestes termos:
      - Não leve a mal o meu amigo, seu soldado... Ele é doido!... Cismou que é advogado, mas não passa de um pobre coitado!... Vamos embora, Candinho... Vamos para a sua casa...
      E foram arrastando o amigo, que continuou a falar de justiça e de liberdade, enquanto tentavam enganar o militar:
      - Ele é maluco!... Não regula!... Vamos embora, Candinho...
      O soldado certamente ficou na dúvida e não disse nem fez nada.
      Quando estavam em segurança, o poeta foi severamente admoestado:
      - Realmente é a pura verdade... VOCÊ É DOIDO!!!... Enfrentar o Exército?!... Tá maluco?!... Graças a Deus conseguimos salvar sua vida!... Nunca mais faça isso de novo, viu?!...
      O Candinho reconheceu, enfim, que correra um risco enorme, agradeceu aos amigos e voltou para casa, incólume.
      Homenageando o poeta, o Roberto Medeiros escreveu esta trova:

Pela aí, vagando a esmo,
o Candinho, em solidão,
discutiu consigo mesmo
e perdeu a discussão.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Franciscanismo X capitalismo

      “O dinheiro, concluiu Burlap, era a raiz de todo o mal; a fatal necessidade, sob a qual o homem agora trabalha, de viver em função do dinheiro e não das coisas reais. ‘Aos olhos modernos os ideais de São Francisco parecem fantásticos, supinamente insanos. A Senhora Pobreza foi rebaixada pelas circunstâncias modernas até a semelhança duma jornaleira de sapatos furados que usa avental de estopa... Nenhum homem sensato sonharia com segui-la. Idealizar uma Dulcineia tão repulsiva seria mostrar-se mais louco do que o próprio Dom Quixote. Dentro da nossa sociedade moderna o ideal franciscano é impraticável. Tornamos a pobreza detestável. Mas isto não significa que possamos simplesmente desdenhar São Francisco como se ele fosse um visionador de sonhos loucos. Não. Pelo contrário, a insânia é nossa e não dele. Ele é o médico no manicômio. Para os lunáticos o médico parece ser o único louco. Quando recobrarmos a razão, haveremos de compreender que ele era o único homem são. Nas condições atuais o ideal franciscano é inexequível. A moral disso é que as condições devem ser alteradas, radicalmente. Nosso alvo deve ser criar uma nova sociedade na qual a Senhora Pobreza seja, não a sórdida jornaleira, mas sim uma forma esplêndida de luz, de graça e de beleza. Oh, Pobreza, Pobreza, linda Senhora Pobreza’...”


      (“Contraponto”, Aldous Huxley, Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1973, Página 246.)

Turma do Beco 19 – Necessidades atávicas

           Temos a Turma do Beco, o Bar do Beco e o Bloco do Beco. O texto a seguir é do artigo “Bloco do Beco: o carnaval que dura o ano todo”, do jornal “Tribuna de Minas”, Juiz de Fora, 11 de fevereiro de 1982:
      “O Bloco do Beco não tem diretoria fixa, muitas vezes ela é mais ou menos definida alguns dias antes da sexta-feira em que o bloco sai. Seus participantes insistem em lembrar que qualquer chapa que se eleja, ‘tem 20 anos de prazo para prestação de contas, além do direito pra renovação por mais 20 anos’. Outra característica da diretoria do Beco é ‘que ela tem de assumir e sumir da situação’. Nesse ponto o Bloco é tão democrático, que o cargo mais disputado é o de tesoureiro. (...) E os ‘bequistas’ chacotam: ‘a Zezé Ribeiro foi nomeada interventora para organizar o Bloco. Depois disso, ela já comprou apartamento, carro, TV a cores, e só viaja de avião. A atual tesoureira está em Cabo Frio. Está todo mundo aflito aqui, preocupado com quanto se vai gastar e ela lá se bronzeando’.”
      No carnaval de 1981, um dos membros do Beco lançou sua candidatura como tesoureiro do Bloco. Era o Marquinho Cachaça, um mulato pobre e trabalhador.
      Quando alguém lhe perguntou qual a razão de colocar o seu nome para o tão almejado cargo, ele respondeu com apenas três palavras, fazendo uma cara triste e meneando a cabeça:
      - EU PRECISO TANTO!!!...

domingo, 27 de dezembro de 2015

Hazel Anderson

      Hazel Henderson é uma pensadora futurista e economista iconoclasta. Ver o site mercadoetico.terra.com.br. É um espaço importantíssimo para os dias de hoje. Ver a página TV Mercado Ético. Os vídeos devem ser obrigatoriamente assistidos .

      Eis uma lista dos livros em português de Hazel Henderson:
- Construindo um Mundo Onde Todos Ganhem
- Transcendendo a Economia
- Além da Globalização – Modelando uma Economia Global Sustentável
- Mercado Ético: A Força do Novo Paradigma Empresarial
- Cidadania Planetária
- Diálogo Para o Futuro – As Visões Literárias de Duas Pensadoras do Quase Impossível (Com Rose Marie Muraro)

      No número 8 da revista “Planeta Meditação”, Editora Três, s/d, de Mirna Grzich, terapeuta e jornalista, há um artigo sobre esta visionária, “Hazel Henderson analisa a Guerra Econômica Global”. Na página 24 lemos o seguinte texto:

      “BRINCANDO DE IMAGINAR – Imagine que somos visitantes extraterrestres vindos de um dentre os milhões de planetas de nossa galáxia que podem ter condições hospitaleiras para a vida. Somos mais evoluídos que as outras formas de vida existentes na Terra. Em nossa espaçonave, apontamos em direção a Terra e nos aproximamos deste planeta. Não é importante o lugar onde pousamos; tudo parece igual, uma esfera azul e branca com pedaços pardos visíveis na parte de baixo. O lugar onde aterrissamos é aparentemente chamado por seus habitantes de ‘Washington, D.C.’. Vagamos de um lado para outro (tomando, antes de mais nada, a precaução de nos desmaterializarmos para não assustar os terráqueos) e espreitamos o interior de um grande edifício em que há uma reunião onde estão discutindo o futuro deles neste planeta. Eles ainda parecem estar debatendo se o seu planeta é um sistema finito ou não. Nós, extraterrestres, sabemos que, do ponto vantajoso de nossa própria tecnologia altamente desenvolvida, ele não é realmente um sistema fechado; mas, diante dos atuais níveis de tecnologia dos terráqueos, ainda o é. O problema é que parece que eles ainda não internalizaram a experiência de aprendizagem que o seu dispendioso primeiro empreendimento no espaço lhes proporcionou. Eles criaram todo aquele hardware, transmitiram de sua lua imagens de TV, mas pouco fizeram, pelo que parece, para inspecionar e reprogramar seus sistemas educacionais, políticos, econômicos, de modo a reajustá-los ao que têm aprendido.”


      A autora do texto acima acertou dizendo ser apenas uma “brincadeirinha”. Há sérias dúvidas acerca da veracidade da ida dos astronautas norte-americanos à Lua em 1969. E ela apenas arranhou muito de “levezinho” a questão....

Turma do Beco 18 – A cantora no K2

            O Big era um grande músico, como a alcunha sugere. Na época de um Festival de Música, o pessoal do Beco encarregou-o de ir ao Rio de Janeiro contratar uma determinada cantora para interpretar uma certa canção.
      Em lá chegando, ele começou a esbanjar os recursos financeiros que havia levado consigo e quando chegou em Juiz de Fora estava praticamente liso. Não tendo condições de hospedar a intérprete num hotel convencional, ele teve uma ideia salvadora e levou a fulana para o K2, no bairro Vila Ideal. Trata-se de uma boate, um prostíbulo, um inferninho. Acomodou a cantora em um quarto e vazou.
      No dia seguinte, a mulher, crendo estar em um hotel comum, saiu do quarto e achou estranha a movimentação, vendo mulheres seminuas agarradas a seus clientes. E sacou que estava num puteiro. A madame ficou tremendamente irada e indignada, ferida em seus brios de fêmea ao ver que fora tratada como se fosse uma prostituta.
      Ele apareceu, acreditando que a convidada não iria descobrir a natureza exata do “hotel” em que estivera hospedada. Mas teve de escutar muitos impropérios. Tentou justificar seu ato, em vão. Mesmo assim, conduziu-a ao centro da cidade de ônibus.
      Quando teve oportunidade de estar com a turma do Beco, ela colocou de novo para fora toda a sua raiva, chegando a destruir um gravador. Foram obrigados a pagar a sua passagem de volta ao Rio de Janeiro. E arrumar outra cantora.

sábado, 26 de dezembro de 2015

A vileza da riqueza

      (...) Existe algo de particularmente vil, ignóbil e mórbido nos ricos. O dinheiro produz uma espécie de insensibilidade de gangrena. É inevitável. (...) As boas relações entre vizinhos são a pedra de toque que revela os ricos. Os ricos simplesmente não têm vizinhos.
      (...)
      - Mas não têm vizinhos no mesmo sentido em que os pobres os têm. (...) Quando a gente vive com menos de quatro libras por semana, há uma necessidade atroz de se portar como cristão, de amar o próximo. Para principiar, você não pode fugir dele; o próximo, por assim dizer, mora-lhe no quintal. Ignorar a sua presença duma maneira refinadamente filosófica. Não é possível. É necessário odiar ou amar; não há meio-termo; e, em suma, é preferível você procurar amar o vizinho, porque pode precisar do auxílio dele como ele pode precisar do seu – e isso duma maneira tão urgente e tão repetida, que não há lugar para recusas. E desde que você seja obrigado a dar, desde que, como ser humano, não possa deixar de dar, é melhor que trate de amar a pessoa a quem de qualquer modo você terá de dar.
      (...)
      - Mas vocês, os ricos, (...) não têm vizinhos verdadeiros. Nunca praticam um ato de boa vizinhança e nunca pedem aos vizinhos que lhes façam uma gentileza como retribuição. É desnecessário. Vocês pagam pessoas para atenderem às suas necessidades. Podem alugar criados que hão de simular dedicação a três libras por mês e mais a comida. (...) Não, em geral vocês nem mesmo chegam a ter consciência da existência dos vizinhos. Vivem longe deles. Cada um fica isolado na sua casa secreta. Pode haver tragédias atrás dos postigos; mas os vizinhos do lado não ficam sabendo de nada.
      (...)
      (...) O isolamento é um grande luxo. Muito agradável, concordo. Mas o luxo se paga. Ninguém se comove com as desgraças que não conhece. (...) Numa rua pobre a desgraça não pode ser escondida. A vida é demasiadamente pública. Os sentimentos de boa vizinhança estão em exercício constante. Mas os ricos nunca têm um desejo de se mostrarem bons vizinhos para os seus iguais. O mais que podem fazer é ficarem sentimentais diante do sofrimento de seus inferiores – sofrimentos que eles não podem de forma alguma compreender – e mostrar-se condescendentemente compadecidos. Horrível! E isso ainda são os ricos sob o seu melhor aspecto. Quanto ao pior aspecto, aí o tem você... – Apontou para o salão cheio de gente.”

      (“Contraponto”, Aldous Huxley, Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1973, Páginas 64-65.)

Revista “Víbora”, nº 2, junho-agosto, 1981





sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O anjo da rosa azul

      Eu tinha uma amiga em Juiz de Fora, na década de 80, a Luíza, ou melhor, “Luizão”, uma lésbica totalmente assumida, uma franchona. A sua mãe era prostituta e ela foi criada num puteiro. Uma vez a Luíza me falou que resolveu experimentar fazer amor com um homem, e que foi um fracasso. Fiquei puto!... Disse-lhe: - Por que você não me escolheu?!... Eu iria fazer você subir pelas paredes!... Ela riu e respondeu: - Marquinho, pra mim você não é homem... Eu rebati: - Como assim?!... Não sou nenhuma bicha!... Ela se explicou: - Pra mim você é mais uma espécie de “anjo”... Foi o elogio mais carinhoso que recebi na vida.
     

      Na década de 80 eu frequentava muito o barzinho “Asterix”, na ex-Av. Independência, perto da Espírito Santo. Ficava lá sozinho, pensando, escrevendo e lendo. Uma vez tomei três caipiríssimas de vodka só para poder ler a “Ode Marítima”, do Fernando Pessoa. Uma noite, sentou-se a meu lado a Niccia. Foi levar-me um presente: uma ROSA AZUL. Ela me explicou que custou a achar uma flor daquela, de plástico. Era a única forma de expressar o que ela via em mim. Ou seja: eu era um ESPÉCIME RARO... IRREAL... FANTÁSTICO...

Horror à massa cheirosa...

      Eu preferi sempre os botequins de “pés sujos” com esse povo pobre e simples, mas autêntico, sem rebuscamentos intelectuais e máscaras culturais. As mulheres da vida são muito mais fêmeas que as menininhas de classe média. Os proxenetas e traficantes são mais honestos que muitos “homens de bem”. Os operários são os grandes heróis desta sociedade capitalista hipócrita e arrivista. EU LAVO OS SEUS PÉS!...

Marcos Desafinou o Trombone

      Quando a Capela do Colégio Stella Matutina, do Sidivan, na esquina da Av. Rio Branco com a Av. Presidente Itamar Franco ainda existia, em Juiz de Fora, na década de 70, certa noite fui lá ver uma peça de teatro do antigo grupo carioca “Asdrúbal Trouxe o Trombone”. Como estava demorando muito, saí algumas vezes da fila para comprar cerveja em lata. Resultado: quando me sentei para assistir à peça, já estava “alto”. Foi a minha “vingança” pela demora. Fiquei bem lá na frente. Tinha bastante gente. O álcool me “destravou” e eu simplesmente “acabei” com a peça. Fazia comentários em voz alta, para o desespero dos atores. Alguns deles chegaram a interromper sua fala para me pedir silêncio. Quais eram os atores? São hoje famosos: Perfeito Fortuna, criador do Circo Voador; Regina Casé, da Globo; Luiz Fernando Guimarães, da Globo; Evandro Mesquita, da banda Blitz; e Patrícia Travassos, atriz. Tenho certeza de que nenhum deles me esqueceu.

Turma do Beco 17 – Alucinação azul

      O bar do Chanan localizava-se na Av. Getúlio Vargas na segunda metade da década de 60. Digo isto pois eu havia mudado recentemente para Juiz de Fora e trabalhava numa sapataria nas suas proximidades. O fato a seguir passou-se ali.
      Estava o Roberto Medeiros e amigos sentados numa mesa a beber cerveja e a conversar, como sempre, sobre arte e cultura. Já havia passado um bom tempo e a bebida começava a fazer efeito, deixando todos alegres e descontraídos.Turma do Beco 17 – Alucinação azul
      Eis senão quando, de repente, sem mais nem menos, passou correndo pelo piso do chão um coelho AZUL... O papo foi imediatamente silenciado. Cada um ficou olhando para o outro, estupefactos.
      O Roberto falou:
      - Vocês viram o que eu vi?!...
      A resposta foi unânime:
      - Vimos...
      Ele chamou:
      - Chanan, venha cá...
      O dono do bar apareceu.
      - O que foi que você colocou nesta cerveja?!... Todos nós acabamos de ver um COELHO AZUL passar por aqui... Eu me lembro da “Mosca Azul” do Machado de Assis... Mas “Coelho Azul”?!...
      Chanan deu uma gargalhada e explicou que ele criava um coelho nos fundos do bar e que o bicho devia ter esbarrado numa lata de tinta azul que ele tinha, e ficou todo pintado.

      Foi um alívio geral.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pedofilia e encarnação

   
      Dados científicos sobre a sexualidade feminina:

      “Os seios se desenvolvem antes da primeira menstruação. A primeira menstruação ocorre quando o ovário é capaz de fabricar hormônios a uma taxa suficientemente alta. A primeira menstruação, em geral, se dá entre 12 e 14 anos. Pode vir mais cedo, aos 10 anos; ou mais tarde, aos 16 anos. Sem anomalia genital. A capacidade de reprodução só ocorreria realmente depois de 6 a 12 meses após a primeira ejaculação/menstruação. As primeiras menstruações não são habitualmente acompanhadas de ovulação. Sem ovulação, não há fecundação. Os ciclos, na maioria das vezes, não são acompanhados de ovulação durante os dois primeiros anos após o início da puberdade. Não é impossível a gravidez desde a primeira menstruação, se esta, excepcionalmente, for ovulatória. Quanto mais precoce for a menstruação na menina, mais tardia será a menopausa na mulher madura, e vice-versa.”

      De forma geral, a adolescente, meses após a primeira menstruação, por volta dos 13 anos de idade, já está apta à fecundação. Portanto, já pode ser considerada mulher capaz de se engravidar. E segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente é crime o intercurso sexual com as púberes menores de 14 anos. Portanto, transar com uma garota de 14 anos não é crime. Mesmo porque a NATUREZA assim determinou, e ELA não pode ser acusada de “pedófila”. A definição da idade de 14 anos veio corrigir o Código Penal, o qual antes abrangia a “corrupção de menores” entre 14 e 18 anos.

      Na antiguidade e até mesmo poucas décadas atrás, assim como em comunidades indígenas, tribais, etc., era e é costume as meninas se casarem por volta dos 14 anos, garantindo vários anos de fertilidade e a possibilidade de uma prole numerosa. Hoje, em sociedades mais modernas, raramente isto acontece. A mulher contrai casamento na casa dos 20 anos, tendo geralmente poucos filhos. O resultado deste costume é que a população mundial fica bastante reduzida, numa verdadeira “implosão” populacional. Alegam as autoridades e os especialistas da área que tal costume é benéfico, devido à superpopulação. Mas não existe esta superpopulação, apenas excessiva concentração das massas humanas em grandes cidades, deixando imensas áreas interioranas praticamente desertas.

      Os espiritualistas e esotéricos sabem que o número de almas desencarnadas, do outro lado da vida, é MUITO MAIOR que as encarnadas. Caso houvesse uma política mundial de crescimento populacional aliada a uma reorganização social e econômica da sociedade, muitas dessas almas encontrariam mais facilidade para voltar à matéria, resgatando seus carmas e evoluindo mais rapidamente. E as adolescentes, sem se transformarem em meras reprodutoras, poderiam iniciar a sua vida sexual e matrimonial após os 14 anos.

      Escrevi o texto a seguir aqui no Facebook no dia 7-11-2012:

      Não existe excesso de seres humanos habitando a superfície terrestre. A alegação de que a Terra está superpovoada é totalmente inverídica. O que existe é uma superconcentração em grandes centros urbanos e imensas áreas rurais desabitadas. Todas as políticas sócio-econômicas vigentes estão desvirtuadas por interesses malignos. A falência dos sistemas vigentes é absoluta. Ações de controle de natalidade e de esterilização levam em conta apenas o interesse de uma minoria. A concentração de rendas nas mãos de poucos é que provoca fome e miséria, jamais o excesso de terráqueos.

      Olhando pelo lado espiritual, esta realidade impede o crescimento populacional, o qual proporcionaria maior possibilidade de novas encarnações. Há uma imensa quantidade de almas necessitando de corpos físicos para efetuar os seus resgates cármicos. Tem aquela história do garotinho que foi agredido fisicamente pelo coleguinha na creche, e que se defendeu dizendo: - Você não deveria bater em mim... Eu tive um trabalho danado para conseguir este corpo...

Revista “Víbora”, nº 2, junho-agosto, 1981






quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Natal capitalista

      “Nos tempos de Dickens, o nascimento do Salvador era celebrado simplesmente com profusão de bebidas e comidas. Com exceção dos criados, ninguém recebia presentes. Hoje, o Natal é um fator importante de nossa economia capitalista. Um tempo de alegria simples foi convertido, pela constante aplicação da propaganda, em uma orgia de compras longamente preparada, na qual todos ficam com a compulsão da troca de presentes, para o considerável enriquecimento de comerciantes e fabricantes.”

      (“Adônis e o Alfabeto”, Aldous Huxley, Editora Hemus, São Paulo, sem data, obra escrita em 1956, página 146.)

Turma do Beco 16 - Transa frustrada

      O Marcão, (pseudônimo), uma das figuras mais proeminentes no Bar do Beco, passou uns tempos em Brasília, quando o Roberto Medeiros trabalhava no Senado assessorando o Itamar. Aliás, vários membros da Turma tiveram oportunidade de estar na Capital Federal junto ao grande amigo, como foi o caso da Soninha Mão de Obra. O Roberto não conseguia ficar longe de Juiz de Fora por muito tempo. O ambiente frio do Distrito Federal não batia com o seu temperamento boêmio.
      Certa vez, num bar, o Marcão ficou conhecendo um sujeito, funcionário público federal, mas que não trabalhava, só recebia seus vencimentos mensais. Ele explicou que era topógrafo por profissão, mas ocorreu um erro ortográfico e escreveram tipógrafo. Assim, ele não podia fazer um serviço do qual nada entendia.
      Ainda em Brasília, por esta ocasião, o Marcão conheceu uma mulher muito distinta num bar, e começaram a conversar. Inteligente, ficou seduzida pelo mineiro, músico e artista, o qual começou a narrar os seus casos de Juiz de Fora. Para continuar a conversa, ela o levou até o seu apartamento. Ao entrarem na sala, disse-lhe para ficar à vontade, e desapareceu no interior da casa.
      Considerando que a fêmea já estava no papo, o Marcão seguiu à risca o conselho e tirou toda a roupa, ficando apenas de cueca, a assobiar feliz algum samba.
      Quando a madame voltou à sala e viu o visitante em trajes íntimos, perdeu toda a dignidade e passou a gritar:
      - Mas o que significa isto?!... O que é que você está pensando?!... Que vai trepar comigo logo no primeiro encontro?!... Seu safado!... Vista-se imediatamente!...
      O Marcão, assustado com a violenta e inesperada reação, vestiu às pressas a calça e a camisa, enquanto a dona continuava a berrar.
      Na saída, ao abrir a porta, ele perguntou:
      - Nem um beijinho?!...
      Ela atirou nele uma jarra decorativa, a qual se espatifou na porta, justamente no segundo em que era fechada.
      Ele saiu, pensando:
      - Ela ficou gamada por mim!...
      O Marcão é o autor daquele comentário
      - As mulheres do Beco são como chuchu: não têm gosto de nada, mas a gente come pro vizinho não comer.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Os pesadelos de Kurosawa

Escrevi no dia 17-3-2012 no meu extinto blog "Ipsissimus Magister":

Revi ontem, no Max, o maravilhoso filme de Akira Kurosawa, “Sonhos”, de 1990, composto de oito histórias curtas. Na primeira, “Sol Através da Chuva”, uma criança desobedece à mãe e assiste à dança do acasalamento das raposas. Na segunda, “O Pomar de Pêssegos”, um garoto assiste à triste dança dos espíritos dos pessegueiros, que foram cortados. Estas duas retratam a difícil relação do homem com a natureza. Na terceira, “A Nevasca”, com um início angustiante, o líder de uma expedição encontra a Morte, na figura de uma bela mulher. Fez-me lembrar “Al That Jazz”, com Roy Scheider. Na quarta, “O Túnel”, numa excelente dramatização sobre a guerra, um capitão do exército encontra os soldados do seu batalhão, que foram mortos em combate, mas que acreditam estarem vivos. Na quinta, “Corvos”, um jovem pintor penetra nos quadros de Van Gogh e se encontra com ele nos campos, com um pano cobrindo as orelhas. A paisagem e os quadros intensamente coloridos sofrem um contraste ao final com o negro dos corvos, augúrio de angústia e de morte. Na sexta, “Monte Fuji Vermelho”, ele entra em erupção e ocorre um incêndio numa usina nuclear, liberando fumaças coloridas radioativas. Um dos responsáveis pela falha diz: “A estupidez do homem é inacreditável”... Pode ser uma premonição para a tragédia do tsunami de 2011. Na sétima, “O Demônio Chorão”,  um viajante se depara com um demônio, o qual lamenta ter sido um fazendeiro desonesto. Ele fala da guerra nuclear, deste mundo estúpido, da humanidade idiota e das flores mutiladas. “Isto é o inferno.” No final, assistem ao espetáculo dos gritos de dor dos outros demônios. Na última história, “A Aldeia dos Moinhos de Água”, onde não há energia elétrica e nem os bens de consumo, um idoso critica a sociedade moderna e enaltece a vida simples e pura junto à natureza. Mensagem final de esperança. É um filme extraordinário!!!... 

Revista “Víbora”, nº 2, junho-agosto, 1981






segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Trabalho = tortura

      “Consideremos, por exemplo, a palavra francesa travail (trabalho). Ela deriva do latim moderno trepalium, espécie de cavalete usado para deslocar as juntas de criminosos e feiticeiras petulantes. Assim, etimologicamente, trabalho é equivalente a tortura. (...) Ponos em grego e labor no latim significam, ao mesmo tempo, trabalho e sofrimento. ‘E Raquel trabalhou’ – lemos no livro do Gênese – ‘e ela trabalhou duramente’. (...) Duas palavras para trabalho, duas palavras para dor. Além disso, quando o inglês moderno ‘labour’ assume o seu significado primário, em geral significa trabalho da mais desagradável espécie – trabalho obrigatório, como no caso dos ‘trabalhos forçados’, como pena, ou do pesado trabalho sem qualificação executado pelos operários’.”

      (“Adônis e o Alfabeto”, Aldous Huxley, Editora Hemus, São Paulo, sem data, obra escrita em 1956, página 112.)

Turma do Beco 15 – O sumiço da perna

            José Antônio Jacob, apelido Tuka, é um excelente poeta e um grande sonetista, orgulho do Beco. Na juventude, sofreu um terrível acidente, que por pouco não o matou. Estando a nadar na cachoeira entre os bairros São Pedro e Borboleta, foi arrastado por uma correnteza e voou de uma altura de alguns metros, caindo em pé, com uma das pernas atingindo uma pedra. O amigo que estava com ele segurou-o no colo e conseguiu levá-lo até uma estrada, sendo socorrido por um carro e conduzido ao hospital. Perdeu uma das pernas. Tempos depois conseguiu uma perna mecânica. Salvou-se por um triz.
      Quando estava na Turma do Beco, um dia ele foi de carro (se não me engano, um fusca) até o Clube Náutico, para os lados de Jockey Clube e Benfica, juntamente com outros amigos. Numa altura da estrada, o veículo se descontrolou e caiu numa ribanceira. O Tuka foi projetado para fora do carro, e ficou deitado no chão, sem ferimentos mas também sem a perna mecânica, a qual havia se desprendido. Acontece que eles caíram no quintal de uma casa. Uma senhora, ouvindo o tremendo barulho, saiu para o terreiro a fim de ver o que havia acontecido. E deparou-se com o Tuka estatelado na terra, mostrando o toco de uma das pernas. Ao vê-la, o poeta perguntou:
     - A senhora não viu a minha perna por aí?!...
      A mulher desmaiou.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Turma do Beco 14 – Cabeça-Fraca

           O Décio e o Orlando foram muito amigos. Mas o primeiro gostava de gozar a cara do segundo. Colocou nele o apelido de Orlando Cabeça-Fraca. O Décio dizia:
      - Se você pedir ao Orlando para ir no bairro Nossa Senhora Aparecida procurar a dona Lourdes, ele vai no bairro de Lourdes procurar a dona Aparecida.
      Outra gozação do Décio:
      - Quando o “Cabeça” cisma de cantar a famosa música “La Barca”, ao dizer o verso inicial – dicen que la distancia es el olvido – o Orlando aponta o dedo para o ouvido.
      Mas o mesmo não ligava para as implicâncias do amigo.
      O fato mais memorável do Orlando, de que tenho conhecimento, ocorreu num bar que existia na Av. Getúlio Vargas, entre a Marechal e a Halfeld. Era muito pequeno o botequim. Certa noite, o Orlando se achava lá, em pé diante do balcão, a beber cerveja. Aconteceu então que ele entrou numa discussão e numa briga com alguém, e partiram para os sopapos. Num determinado momento, ao ver que não dispunha de nada para lançar contra o oponente, o “Cabeça” pegou pela cintura um anão que se encontrava perto dele e lançou o coitadinho em direção ao inimigo.
      Outro caso fantástico do Cabeça-Fraca ocorreu no bairro São Pedro. O Orlando, homem já maduro, quarentão-cinquentão, estava namorando uma moça que lá residia. Certa vez, foi na casa da garota, sendo tratado com rudeza e agressividade pelos seus pais e irmãos. O que fez o Cabeça-Fraca? Deu uma de doido e EXPULSOU todo mundo de casa, aos tapas e empurrões. E se trancou lá dentro com a menina, a qual estava apavorada. A polícia foi chamada e finalmente o Orlando se acalmou e foi embora, conseguindo livrar-se de uma detenção por invasão de domicílio.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

FilosoFIAÇÃO

Este texto é de 9-3-2012:


      O canal i-Sat apresentou um documentário sobre o artista plástico suíço Roman Signer, com suas instalações e happenings em ambientes exteriores não convencionais. Porém, desisti de ver ao observar no Google Imagens a sua obra, de uma aridez intelectual insuportável, como, aliás, é grande parte da chamada Arte Moderna. E lembrei-me de algo acontecido em Juiz de Fora mais ou menos em 1980. Num salão do SENAC, na Av. Rio Branco, houve uma exposição de artes plásticas patrocinada por uma daquelas entidades político-culturais de que fazia parte na época, talvez o Unibairros. Resolvi participar com um objeto. (No final da década de 70 tinha feito algumas colagens.) No dia da inauguração, de tarde, fui ao centro da cidade com o meu velho amigo Eduardo Miranda e compramos um garrafão de 5 litros de cachaça, mais uma garrafa de mel. Pegamos um táxi para a minha casa e lá misturamos os dois líquidos. Quando anoiteceu, fomos até o local do evento, ele com o precioso néctar, eu com a minha obra. Fiz o seguinte. Consegui uma urna transparente, de vidro, e a forrei internamente com um tecido roxo, a cor da morte. Dentro da urna instalei o grosso volume da “História da Filosofia”, do Padovani. Na capa, em cima da testa de Platão, coloquei uma pequena e antiga moeda, simbolizando tudo o que é velharia. Por cima da tampa da urna, colei um papel com a seguinte frase, datilografada: “Ó pequenina flor! Se eu conhecesse o seu segredo último, conheceria o segredo último de todo o Universo”. Foi retirada de um pequeno livro esotérico do qual não mais me recordo o nome e o autor. Esta concepção místico-monista anula todo o racionalismo filosófico ocidental. Eu chamo a Filosofia de FILOSOFIAÇÃO. Aliás, acredito que este tipo de aberração mental existe apenas aqui em nosso planeta, inexistindo em mundos alienígenas superiores tal excrescência intelectual. Mas, voltando à vaca fria, durante a exposição a pinga com mel foi consumida generosamente. Lembro-me de estar presente o velho guerreiro Décio Lopes. Um sujeito gostou tanto de meu objeto anti-filosófico que tomou a liberdade de colocar dentro da urna uma barata morta. Terminada a exposição, fui com o Eduardo e alguns amigos até o extinto Bar Esperança, na esquina da Rio Branco com Oswaldo Aranha, reduto de esquerdistas, sem esquecer, é claro, de levar o garrafão. Por lá ele ficou. Do resto não me lembro. Que tempos maravilhosos foram aqueles!!!...

Revista “Víbora”, nº 2, junho-agosto, 1981





quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Revolução niilista

      “O grande problema do sistema social e industrial de hoje não é que ele faça algumas pessoas muito mais ricas do que outras, mas é porque torna a vida fundamentalmente invisível para todos. Agora que não apenas o trabalho, mas também o lazer, se tornou completamente mecanizado; agora que, a cada novo aperfeiçoamento da organização social, o indivíduo acha-se ainda mais degradado de sua dignidade humana como simples corporificação de uma função social; agora que as distrações pré-fabricadas e embrutecedoras difundem um tédio cada vez maior em esferas cada vez mais amplas, - agora a existência tornou-se sem sentido e intolerável. Tão sem sentido e tão intolerável que as grandes massas materialmente civilizadas nem sequer ainda tomaram consciência disso. Até agora, só os mais inteligentes é que se conscientizaram. A reação a essa consciência, por parte daqueles cuja inteligência não se faz acompanhar de talento nem de ímpeto criador, traduz-se por um ódio intenso e uma ânsia de destruir. Esse tipo de inteligente odiador-de-tudo foi aterradora e admiravelmente retratado por André Malraux em seu romance Les Conquérants. Recomendo sua leitura aos sociólogos.

      Não está longe o tempo quando toda a população, e não apenas uns poucos indivíduos, excepcionalmente inteligentes, há de se dar conta conscientemente da inviabilidade fundamental da vida sob o atual regime. E que acontecerá então? Perguntem a Malraux. A revolução que então eclodirá não será de caráter comunista – não haverá necessidade de tal espécie de revolução, como já demonstrei, e, de mais a mais, ninguém acreditará no melhoramento da humanidade ou em nada parecido. Será uma revolução niilista. A destruição pela destruição. Ódio, ódio universal, um arrasamento sem propósito e, portanto, completo e rematado, de tudo. E o nivelamento dos rendimentos pelo alto, ao acelerar a difusão da mecanização universal (maquinaria é coisa cara), só fará acelerar o advento dessa grande orgia do niilismo universal. Quanto mais ricos e mais materialmente civilizados nos tornarmos, mais rapidamente ele chegará. Tudo o que podemos esperar é que ele não chegue em nossos dias.”

      (“Satânicos e Visionários”, Aldous Huxley, Companhia Editora Americana, Rio de Janeiro, 1975, obra escrita em 1929, Página 146.)

Turma do Beco 13 – Silvinha e o sineiro

      No Beco, na década de 70, havia uma cantora chamada Silvinha. Ela cantava em bares, shows e festivais, tendo ganho alguns prêmios como melhor intérprete. Tinha, além disso, a fama de ser sexualmente insaciável. A fêmea era uma “fera”. O homem que caísse na sua rede era obrigado consumir muitos ovos de codorna e outros fortificantes.
      Uma ocasião, o pessoal do Beco foi participar de um Festival de Música em São João del Rei. E a Silvinha foi junto. No primeiro dia, passeando pelas ruas históricas da cidade, acompanhada de alguns amigos de Juiz de Fora, ela parou defronte a uma igreja e ficou a observar a sua torre. Acontece que um sineiro estava lá no alto, badalando o sino, segurando uma corda, e parte do seu corpo chegava a sair pela janela. A Silvinha ficou fascinada com aquilo e resolveu entrar no templo. E sumiu de vista. Ninguém a viu naquele dia e nem no dia seguinte.
      Aproximando-se a hora de retornar a Juiz de Fora, todos preocupados com o sumiço da cantora, alguém se lembrou de que a tinha visto pela última vez entrando na igreja. Foram até lá procurá-la. Investiga daqui, pergunta dali, acabaram encontrando o endereço do tal sineiro, o qual morava sozinho.
      Ao chegarem na casa do indivíduo, bateram palmas. Quando a porta da sala foi aberta, apareceu o sineiro, com olheiras, respirando ofegantemente. Ao ser perguntado se a Silvinha se encontrava em sua casa, ele falou, com voz cansada e sumida:
      - Ah!... Pelo amor de Deus!... Levem esta mulher com vocês!... Eu não aguento mais!...
      Neste instante, vinda do interior da casa, apareceu a Silvinha, alegre e cheia de energia, a sorrir, abraçando à sua “vítima”. Só disse isto:
      - Oi, pessoal!!!...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Turma do Beco 12 - O suicídio do Lima

     Em meados de um ano que não sei precisar, na década de 70, o Lima se encontrava chateado e macambúzio, dizendo que estava a fim de se suicidar. Naturalmente, o pessoal do Beco tentou elevar o seu astral. Mas não surtiu efeito. O poeta continuou deprimido. Então, um dia, alguém, provavelmente o Roberto, falou com ele nestes termos:
      - Lima, tudo bem. Já que você quer realmente se matar, então que seja. Porém, nós discutimos o seu problema e chegamos a um acordo. É o seguinte. Como poeta, nós pensamos que a sua morte deve ser gloriosa. Não será um suicídio qualquer.
      O Lima escutava em silêncio, entre suspiros desalentados.
      - Você não irá morrer como qualquer pessoa comum. Sugerimos um suicídio que fará você entrar para a História do Brasil como um verdadeiro herói.
      Nesta altura, o poeta passou a ouvir com vivo interesse.
      - Como você fará isso? É simples. Daqui a alguns dias será 7 de setembro. Durante o desfile militar na Av. Rio Branco, você subirá o elevador do Edifício Clube Juiz de Fora e vai pular lá de cima direto do palanque oficial. Pelo menos um militar de alta patente vai morrer com o impacto do seu corpo caindo. Assim, você não só vai morrer, como a sua morte não será em vão. Não é uma boa ideia? Ou melhor, não é uma má ideia?
      Era a época da Ditadura, e do Edifício já haviam pulado outros suicidas, sendo um local afamado neste sentido.
      Ficou acertado que assim seria feito, tendo o Lima concordado em dar um desfecho à própria vida desta maneira. Nos dias que se seguiram, todos começaram a paparicar o poeta, externando votos de um rápido fim, entre abraços e considerações eternas de amizade.
      E foi marcado um jantar de despedida na noite de 6 de setembro, num restaurante. Tudo foi providenciado para que fosse uma noite memorável. Deveria haver bebida e comida à vontade. É óbvio que a despesa foi colocada em nome do Lima, pois iria morrer mesmo! E morto não deve mais nada.
      Quando anoiteceu, na véspera do feriado, o pessoal do Beco foi começando a chegar ao restaurante, o qual ficou repleto de solidários companheiros. Um tempo depois, chegou o pré-suicida, com uma cara patibular. Foi recebido com vivas, palmas e ovações. E começaram os discursos. Cada um queria manifestar as suas antecipadas condolências ao futuro morto. E o Lima sentado, quieto. Não poderia reclamar quanto à despesa em seu nome, se tal lhe fosse informado, pois havia firmado um compromisso de honra para o dia seguinte.
      O principal orador foi o Roberto Medeiros. No meio de sua fala, interrompeu o discurso para ir ao banheiro liberar a bexiga da cerveja, continuando o mesmo na volta, coisa altamente inusitada. Mas tudo era inusitado naqueles momentos. Iriam perder o poeta para sempre.
      As horas foram passando e adentrou-se aos primeiros minutos do dia seguinte, o dia fatal. Os mais resistentes, já de madrugada, decidiram permanecer insones para conseguirem um bom lugar na avenida, diante do palanque das autoridades. Outros resolveram ir para casa dormir e acordar a tempo de irem presenciar o histórico suicídio. E quanto ao Lima, uma hora ele deu um jeito de sair sozinho do restaurante e tomou rumo ignorado.
      O dia clareou, o desfile começou, e alguns amigos estavam a postos à espera do grande momento. Mas, nenhum sinal do Lima. Alguém saiu para procurá-lo e encontrou-o a dormir no seu quarto de pensão. Foi acordado e avisado de que o desfile estava prestes a terminar, mas que ainda dava tempo, se ele se apressasse. A sorrir, desculpando-se sem jeito, o Lima declarou que havia desistido de morrer, e que lamentava muito a decepção geral que estava causando.
      No dia seguinte, ainda vivo, ficou sabendo que estava devendo uma quantia enorme no restaurante. Os amigos, evidentemente, saldaram o frustrado banquete de despedida. E nunca mais o Lima falou em morte. Não entrou para a História, é claro, mas continuou a agraciar Juiz de Fora com a sua inesquecível presença. Faleceu em 5 de março de 1993, de parada cardíaca, aos 58 anos de idade. Coincidentemente, 5 de março era aniversário de três integrantes do Beco: do Cezário Brandi Filho (o poeta Zoquinha) e dos músicos gêmeos Roberto e Ricardo Barroso (os irmãos Barrósos), dos quais apenas o último está vivo. O Lima sempre dizia: “faço questão de morrer em Juiz de Fora”. Não deu outra.

Futebol macabro

      Muito tempo atrás, existia uma revista política, em formato de bolso, cujo nome esqueci. Aliás, muita coisa boa acabou!... Hoje só resta essa IMENSA PORCARIA!!!... Outro dia, numa banca de revista, ao dar uma olhada geral nos produtos à venda, me dei conta de que não havia nada que prestasse, com poucas exceções, por exemplo, na área de saúde. Antigamente, as bancas eram locais de Cultura. O Genocídio da Inteligência realizado no Brasil até o FHC foi tão bem perpetrado e obteve um sucesso tão retumbante que até mesmo a memória foi apagada, como num ato de magia... NEGRÍSSIMA... Esta amnésia continuou com o Lula e ainda permanece com a Dilma. Pior ainda, pois o esquecimento é maior com o passar do tempo. Mas não era isto o que desejava dizer.

      Num dos números daquela revista, num artigo sobre o colonialismo de Portugal na África, fiquei chocado ao ler a notícia de um jogo de futebol realizado por soldados PORTUGUESES em Moçambique, quando foi usada como bola a cabeça decepada de uma criança negra enfiada dentro de um saco plástico, em pleno século vinte. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Aritmética inflacionária

      “Um amanuense ganha hoje perto de um conto de réis; mas, em compensação, só de ama-seca, por mês, paga mais de duzentos mil-réis. Um francês, observando que nós falávamos em quinhentos, em mil, em dois mil-réis, etc., quando eram de fato quantias insignificantes em nada correspondendo o seu poder aquisitivo às altas cifras que nos saíam da boca, disse:
      - Vocês são muito ricos... na aritmética.”

      (“Toda Crônica – Lima Barreto”, organização de Beatriz Resende e Rachel Valença, Agir, Rio de Janeiro, 2004, Volume II, 1919-1922, Página 485.)

Revista “Víbora”, nº 2, junho-agosto, 1981




domingo, 13 de dezembro de 2015

Brasil de putas e de putos

Alguns anos atrás, quando o cantor e compositor Waldick Soriano fazia sucesso com “Eu não sou cachorro não”, a música brega estava restrita principalmente ao baixo meretrício. Com a piora dos tempos, esta “breguice” foi se espalhando pelo Brasil até o domínio total hoje em voga desta musiqueta sertaneja e de outros lixos musicais. Ou seja, como dizia Cazuza, o Sistema transformou todo o país num imenso PUTEIRO. Xuxa colocava na cabeça das meninas e adolescentes o “ideal” de serem modelos, quase prostitutas. As gravadoras só passaram a editar letras que falam de amor. Enfim, tudo se transformou no mais horrível kitsch (exagero sentimentalista, melodramático, sensacionalista; gosto medíocre majoritário; estereótipos e chavões; extremo mau-gosto). Esta decadência virou “norma” para a geração jovem atual, IMBECILIZADA, EMBRUTECIDA e PROSTITUÍDA. Uma autêntica “ZONA”... “EU NÃO SOU PUTO NÃO”!!!...


George Orwell, o reacionário

      Em “A Revolução dos Bichos”, os animais de uma fazenda se revoltam contra os humanos e passam a cuidar sozinhos da mesma. Os porcos assumem o controle e se instalam na casa, transformando-se nos novos opressores, tornando a vida dos animais pior do que era antes. O autor disse que a obra era uma crítica ao stalinismo. Mas o fato é que a mensagem principal é profundamente anti-revolucionária, já que não há nenhuma esperança ou solução para o sofrimento da grande massa oprimida, e sendo assim não temos outra opção senão aceitar o sistema vigente, seja ele qual for. É isto que fica subliminarmente no cérebro de quem lê este lixo. Lembro-me do Chico Anísio: - Vampiro brasileiro!... E cuspia. Um violento recado auto-depreciativo, com risos. Desta forma, todos os revolucionários podem se comparar a porcos... No álbum “Animals”, o Pink Floyd usou os cães, os porcos e os carneiros, inspirando-se em Orwell, para criticar a sociedade inglesa.

      Quanto ao “1984”, eu o li anos atrás. Mas o excelente roteiro do filme “1984”, com Richard Burton no seu último papel no cinema, com grande poder de síntese, mostrou de forma clara a essência da obra. Dizem que é uma crítica ao totalitarismo. Parece ser, mas no fundo não é. Aqueles que desobedeciam as normas do Partido voltavam atrás e confessavam publicamente seus “Crimes”, num asqueroso conformismo. (No início dos anos 70, na TV em preto e branco, vi muitos ex-opositores do regime militar se retratarem.) Fiquei me perguntando por que assumiam tal comportamento, até que se revelou o que ocorria na sala 101: a pior tortura de todas. O autor usou de um recurso muito inteligente para justificar as atitudes derrotistas. O ápice desta covardia foi o “mea culpa” do seu companheiro de cela. E o filme termina pateticamente com Winston declarando o seu amor ao Grande Irmão. (Este “1984” faz recordar “THX 1138”, de George Lucas, que não vi.)

      Agora, a “pérola” é “Mantenha o Sistema”, que também li, pouco conhecida. O título já diz tudo. Desta vez a mensagem foi diferente: NÃO LUTEM CONTRA O CAPITALISMO, POIS ISTO NÃO LEVA A NADA... O personagem central, Gordon, insiste em viver na pobreza, negando o dinheiro, numa existência miserável. Para fazer a crítica do Capitalismo existem mil outras formas mais autênticas. O autor, nestes romances, usou de recursos dúbios para lançar idéias reacionárias, mascarando muito bem as suas nefastas intenções. É um lobo com fantasia de cordeiro. Portanto, um inglês altamente perigoso!..

Turma do Beco 11 - Lima: de frasista a poeta

            Daltemar Cavalcanti Lima nasceu no Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de radialista e jornalista. Por volta de 1968 resolveu radicar-se em Juiz de Fora. Quando ficou conhecendo a Turma do Beco e outros intelectuais e artistas, começou a frequentar a roda boêmia. O Roberto perguntou o que ele fazia. Com aquele seu sorriso sincero e cativante, ele respondeu: - Eu sou frasista... faço frases... Provavelmente, devido a jingles publicitários. É dele este primor de propaganda: - Calcinhas Delone: não é a melhor coisa do mundo, mas está bem perto.
      Com o tempo, Lima foi conquistando a amizade de muita gente, principalmente do Prefeito Itamar Franco. Vivendo de modo precário, médicos e empresários bancavam a sua sobrevivência física. Uma extraordinária figura humana, conquistava a todos com a sua maneira simples e despojada de ser. O negócio dele era a vida noturna intelectual.
      Um dia, ele perguntou ao Roberto:
      - O que é que eu faço para também ser poeta?!...
      Respondeu o “Bob”, mais de brincadeira:
      - Bom... você faz frases... é só juntar as frases que dá um poema...
      O Lima levou a sugestão a sério e começou a aparecer nas mesas de bares com alguns poemas. Todo mundo passou a gostar de seus versos e a incentivá-lo. Editou dois (ou três) livros, um deles prefaciado pelo Itamar.
      Entretanto, às vezes ele exagerava um pouco na bebida, causando-lhe alguns problemas de saúde. Como tinha amizade com vários médicos da Santa Casa, os quais preocupavam-se com seus excessos, era com frequência advertido pelos doutores. Para fugir de ambulâncias, as quais saíam à noite para procurá-lo, ele se refugiava nas várias galerias da rua Halfeld, onde naturalmente elas não poderiam entrar.
      Uma vez, estando em Belo Horizonte, ele pegou um táxi e foi até Juiz de Fora. Ao chegar, disse ao motorista que iria apanhar o dinheiro da longa corrida com alguns amigos num bar. O taxista foi atrás dele, com medo de que sumisse. Ao chegar no Bar do Beco, o Lima contou o seu problema e pediu aos presentes que fizessem uma vaquinha. Porém, ninguém quis contribuir com dinheiro algum. E a situação ficou num impasse. O taxista, apesar de preocupado com um provável prejuízo financeiro, acabou sentando-se na mesa, acompanhando a todos na bebida. Ao deparar-se com um ambiente artístico e musical, com samba ao vivo, muita alegria e descontração, ele foi relaxando e passou a noite num hotel. No dia seguinte, voltou a encontrar-se com o Lima e a Turma, desta vez quase se esquecendo da corrida não paga. Resultado: quando os amigos do Lima se quotizaram para saldar a dívida, o motorista já havia sido conquistado e relutantemente voltou a Belo Horizonte.


      O Lima aparece neste vídeo aos 2m05s: