domingo, 13 de dezembro de 2015

Turma do Beco 11 - Lima: de frasista a poeta

            Daltemar Cavalcanti Lima nasceu no Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de radialista e jornalista. Por volta de 1968 resolveu radicar-se em Juiz de Fora. Quando ficou conhecendo a Turma do Beco e outros intelectuais e artistas, começou a frequentar a roda boêmia. O Roberto perguntou o que ele fazia. Com aquele seu sorriso sincero e cativante, ele respondeu: - Eu sou frasista... faço frases... Provavelmente, devido a jingles publicitários. É dele este primor de propaganda: - Calcinhas Delone: não é a melhor coisa do mundo, mas está bem perto.
      Com o tempo, Lima foi conquistando a amizade de muita gente, principalmente do Prefeito Itamar Franco. Vivendo de modo precário, médicos e empresários bancavam a sua sobrevivência física. Uma extraordinária figura humana, conquistava a todos com a sua maneira simples e despojada de ser. O negócio dele era a vida noturna intelectual.
      Um dia, ele perguntou ao Roberto:
      - O que é que eu faço para também ser poeta?!...
      Respondeu o “Bob”, mais de brincadeira:
      - Bom... você faz frases... é só juntar as frases que dá um poema...
      O Lima levou a sugestão a sério e começou a aparecer nas mesas de bares com alguns poemas. Todo mundo passou a gostar de seus versos e a incentivá-lo. Editou dois (ou três) livros, um deles prefaciado pelo Itamar.
      Entretanto, às vezes ele exagerava um pouco na bebida, causando-lhe alguns problemas de saúde. Como tinha amizade com vários médicos da Santa Casa, os quais preocupavam-se com seus excessos, era com frequência advertido pelos doutores. Para fugir de ambulâncias, as quais saíam à noite para procurá-lo, ele se refugiava nas várias galerias da rua Halfeld, onde naturalmente elas não poderiam entrar.
      Uma vez, estando em Belo Horizonte, ele pegou um táxi e foi até Juiz de Fora. Ao chegar, disse ao motorista que iria apanhar o dinheiro da longa corrida com alguns amigos num bar. O taxista foi atrás dele, com medo de que sumisse. Ao chegar no Bar do Beco, o Lima contou o seu problema e pediu aos presentes que fizessem uma vaquinha. Porém, ninguém quis contribuir com dinheiro algum. E a situação ficou num impasse. O taxista, apesar de preocupado com um provável prejuízo financeiro, acabou sentando-se na mesa, acompanhando a todos na bebida. Ao deparar-se com um ambiente artístico e musical, com samba ao vivo, muita alegria e descontração, ele foi relaxando e passou a noite num hotel. No dia seguinte, voltou a encontrar-se com o Lima e a Turma, desta vez quase se esquecendo da corrida não paga. Resultado: quando os amigos do Lima se quotizaram para saldar a dívida, o motorista já havia sido conquistado e relutantemente voltou a Belo Horizonte.


      O Lima aparece neste vídeo aos 2m05s:


Nenhum comentário:

Postar um comentário