Quando eu era adolescente, morando em
Argirita, trabalhei um tempo no escritório da Cooperativa de Leite, sendo nesta
época seu presidente o sr. Cândido Pereira de Almeida. E quando mudei para Juiz
de Fora em 1966, arrumei pouco tempo depois um emprego de cobrador na Sapataria
Luzmar. A primeira cobrança que fiz foi na casa de um tal de Cândido Pereira de
Almeida. Os homônimos não me deixaram esquecer. Trata-se do poeta Candinho,
membro do NUME e do Beco.
Nos primeiros dias da ditadura militar,
em abril de 1964, ao ver um soldado do exército infringir os direitos
constitucionais de um cidadão, o Candinho, que era advogado, em nome da
liberdade, deu voz de prisão ao militar.
Aquele gesto, que ia da extrema
temeridade à pura loucura, foi assistido por alguns amigos intelectuais, os
quais se achavam nas proximidades. Um deles, para salvar a pele do amigo poeta,
foi obrigado a intervir. Dirigiu-se ao soldado mais ou menos nestes termos:
- Não leve a mal o meu amigo,
seu soldado... Ele é doido!... Cismou que é advogado, mas não passa de um pobre
coitado!... Vamos embora, Candinho... Vamos para a sua casa...
E foram arrastando o amigo, que continuou
a falar de justiça e de liberdade, enquanto tentavam enganar o militar:
- Ele é maluco!... Não regula!... Vamos
embora, Candinho...
O soldado certamente ficou na dúvida e
não disse nem fez nada.
Quando estavam em segurança, o poeta foi
severamente admoestado:
- Realmente é a pura verdade... VOCÊ É
DOIDO!!!... Enfrentar o Exército?!... Tá maluco?!... Graças a Deus conseguimos
salvar sua vida!... Nunca mais faça isso de novo, viu?!...
O Candinho reconheceu, enfim, que correra
um risco enorme, agradeceu aos amigos e voltou para casa, incólume.
Homenageando o poeta, o Roberto Medeiros
escreveu esta trova:
Pela aí, vagando a esmo,
o Candinho, em solidão,
discutiu consigo mesmo
e perdeu a discussão.
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