quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Turma do Beco 20 – A ousadia demente do Candinho

            Quando eu era adolescente, morando em Argirita, trabalhei um tempo no escritório da Cooperativa de Leite, sendo nesta época seu presidente o sr. Cândido Pereira de Almeida. E quando mudei para Juiz de Fora em 1966, arrumei pouco tempo depois um emprego de cobrador na Sapataria Luzmar. A primeira cobrança que fiz foi na casa de um tal de Cândido Pereira de Almeida. Os homônimos não me deixaram esquecer. Trata-se do poeta Candinho, membro do NUME e do Beco.
      Nos primeiros dias da ditadura militar, em abril de 1964, ao ver um soldado do exército infringir os direitos constitucionais de um cidadão, o Candinho, que era advogado, em nome da liberdade, deu voz de prisão ao militar.
      Aquele gesto, que ia da extrema temeridade à pura loucura, foi assistido por alguns amigos intelectuais, os quais se achavam nas proximidades. Um deles, para salvar a pele do amigo poeta, foi obrigado a intervir. Dirigiu-se ao soldado mais ou menos nestes termos:
      - Não leve a mal o meu amigo, seu soldado... Ele é doido!... Cismou que é advogado, mas não passa de um pobre coitado!... Vamos embora, Candinho... Vamos para a sua casa...
      E foram arrastando o amigo, que continuou a falar de justiça e de liberdade, enquanto tentavam enganar o militar:
      - Ele é maluco!... Não regula!... Vamos embora, Candinho...
      O soldado certamente ficou na dúvida e não disse nem fez nada.
      Quando estavam em segurança, o poeta foi severamente admoestado:
      - Realmente é a pura verdade... VOCÊ É DOIDO!!!... Enfrentar o Exército?!... Tá maluco?!... Graças a Deus conseguimos salvar sua vida!... Nunca mais faça isso de novo, viu?!...
      O Candinho reconheceu, enfim, que correra um risco enorme, agradeceu aos amigos e voltou para casa, incólume.
      Homenageando o poeta, o Roberto Medeiros escreveu esta trova:

Pela aí, vagando a esmo,
o Candinho, em solidão,
discutiu consigo mesmo
e perdeu a discussão.

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