sábado, 12 de dezembro de 2015

Dinheiro X Beleza

      “O banqueiro Lentier, afundado na cadeira giratória, fazia cálculos, milhares de contos de réis. Estudava negócios, desde o romper da aurora, até à boca-da-noite. Quando os passarinhos cantavam, lembrava-se, despertando, de uma transação do dia. Atravessava o jardim e não via o esplendor das rosas matutinas. Nunca olhou para o céu.
      Havia, pelo seu caminho, a alegria da vida despertando. E os primeiros raios de sol cantavam na frontaria dos prédios.
      Passava o dia no seu ‘bureau’, de lápis na mão. Todos os que o procuravam, tratavam de negócios. Dava ordens, anotava, pensava. Discutia questões de leis, regulamentos. Lia os boletins comerciais. Examinava bordereaux, e os seus olhos fugiam, através das colunas dos jornais, de todos os artigos ou comentários que não se referissem a assuntos da praça.
      As distrações de Lentier eram as teses sobre economia e finança. Os contentamentos de Lentier fluíam das cotações cambiárias ou das notícias comerciais favoráveis ao seu Banco.
      Jantava tarde. Acendia um charuto para pensar nos negócios. Dormia cedo. Não ia a teatros nem a cinemas.
      Nunca tivera tempo de ver as estrelas, de olhar para a lua, de ver cair um crepúsculo, de escutar uma poesia.”

      (“O Esperado”, Plínio Salgado, Editora das Américas, São Paulo, 1955, Obras Completas, Volume Décimo Segundo, Páginas 210-211.)

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