“O banqueiro Lentier, afundado na cadeira
giratória, fazia cálculos, milhares de contos de réis. Estudava negócios, desde
o romper da aurora, até à boca-da-noite. Quando os passarinhos cantavam,
lembrava-se, despertando, de uma transação do dia. Atravessava o jardim e não
via o esplendor das rosas matutinas. Nunca olhou para o céu.
Havia, pelo seu caminho, a alegria da
vida despertando. E os primeiros raios de sol cantavam na frontaria dos
prédios.
Passava o dia no seu ‘bureau’, de lápis na
mão. Todos os que o procuravam, tratavam de negócios. Dava ordens, anotava,
pensava. Discutia questões de leis, regulamentos. Lia os boletins comerciais.
Examinava bordereaux, e os seus olhos
fugiam, através das colunas dos jornais, de todos os artigos ou comentários que
não se referissem a assuntos da praça.
As distrações de Lentier eram as teses
sobre economia e finança. Os contentamentos de Lentier fluíam das cotações
cambiárias ou das notícias comerciais favoráveis ao seu Banco.
Jantava tarde. Acendia um charuto para
pensar nos negócios. Dormia cedo. Não ia a teatros nem a cinemas.
Nunca tivera tempo de ver as estrelas, de
olhar para a lua, de ver cair um crepúsculo, de escutar uma poesia.”
(“O Esperado”, Plínio Salgado, Editora
das Américas, São Paulo, 1955, Obras Completas, Volume Décimo Segundo, Páginas
210-211.)
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