terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Franciscanismo X capitalismo

      “O dinheiro, concluiu Burlap, era a raiz de todo o mal; a fatal necessidade, sob a qual o homem agora trabalha, de viver em função do dinheiro e não das coisas reais. ‘Aos olhos modernos os ideais de São Francisco parecem fantásticos, supinamente insanos. A Senhora Pobreza foi rebaixada pelas circunstâncias modernas até a semelhança duma jornaleira de sapatos furados que usa avental de estopa... Nenhum homem sensato sonharia com segui-la. Idealizar uma Dulcineia tão repulsiva seria mostrar-se mais louco do que o próprio Dom Quixote. Dentro da nossa sociedade moderna o ideal franciscano é impraticável. Tornamos a pobreza detestável. Mas isto não significa que possamos simplesmente desdenhar São Francisco como se ele fosse um visionador de sonhos loucos. Não. Pelo contrário, a insânia é nossa e não dele. Ele é o médico no manicômio. Para os lunáticos o médico parece ser o único louco. Quando recobrarmos a razão, haveremos de compreender que ele era o único homem são. Nas condições atuais o ideal franciscano é inexequível. A moral disso é que as condições devem ser alteradas, radicalmente. Nosso alvo deve ser criar uma nova sociedade na qual a Senhora Pobreza seja, não a sórdida jornaleira, mas sim uma forma esplêndida de luz, de graça e de beleza. Oh, Pobreza, Pobreza, linda Senhora Pobreza’...”


      (“Contraponto”, Aldous Huxley, Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1973, Página 246.)

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