quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Turma do Beco 9 – Roberto Medeiros (Parte 1)

      
      O Roberto (“Bob”, para os mais íntimos) possuía uma sólida formação intelectual, filosófica, jurídica e política. Quando alguém lhe dizia algo, ele pensava dialeticamente no oposto do que foi dito. Tinha penetração em todas as camadas sociais. Foi poeta, trovador e compositor. Convivia com artistas, intelectuais, advogados, empresários, jornalistas e gente do povo. Assessorou o Itamar Franco desde a Prefeitura de Juiz de Fora até a Presidência da República. Mas a sua preferência era pela Poesia e pela Música. Na década de 60, no NUME – Núcleo Mineiro de Escritores, participou vitoriosamente de vários Jogos Florais. No Bar do Beco, em inumeráveis botequins e finalmente no restaurante Brasão, as noites eram recheadas de versos, músicas e muito papo, e regadas, obviamente, com bastante cerveja. É autor de inúmeros sambas-enredos de escola de samba. No ano de sua morte, em 1995, publicou seu primeiro livro, “Cantos e Contos de Minas”, em parceria com Carlos Décio Mostaro.
      Certa vez ele encontrou-se com um político, o qual confessou:
      - Roberto, ando muito preocupado com a situação. Tão preocupado que tenho medo de sofrer um derrame cerebral.
      O Roberto retrucou:
      - Fique tranquilo, que disso você não morre. Falta-lhe matéria-prima.
      Por ironia, foi exatamente disso que o Roberto faleceu.
     Outra ocasião, um compositor local cantou para ele uma música, acompanhada pelo violão. Quando terminou, inquiriu:
      - Doutor Roberto, o que é que está faltando no meu samba?
      Sem uma entonação agressiva na voz, ele respondeu:
      - Talento.
      O outro:
      - Se o senhor quiser, eu dou uma “apressadinha”...
      O sujeito achou que “estava lento”...
      Era comum ele ser procurado para opinar em matéria literária e musical. Num carnaval, alguns dirigentes de uma escola de samba vieram trazer a ele o tema escolhido para o próximo tríduo momesco: - Castor de todo nozes... Tratava-se do bicheiro Castor de Andrade. O Roberto, desta vez, foi curto e grosso:
      - Péssima escolha esta de vocês!... Primeiramente, estão homenageando um contraventor. E depois, quem gosta de nozes não são os castores, mas os esquilos.
      Outro tema de enredo de escola de samba foi apresentado ao Roberto: - Os gays contaminam a avenida... Ele foi taxativo:
      - Só se for de AIDS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário