“O grande problema do sistema social e
industrial de hoje não é que ele faça algumas pessoas muito mais ricas do que
outras, mas é porque torna a vida fundamentalmente invisível para todos. Agora
que não apenas o trabalho, mas também o lazer, se tornou completamente
mecanizado; agora que, a cada novo aperfeiçoamento da organização social, o
indivíduo acha-se ainda mais degradado de sua dignidade humana como simples
corporificação de uma função social; agora que as distrações pré-fabricadas e
embrutecedoras difundem um tédio cada vez maior em esferas cada vez mais
amplas, - agora a existência tornou-se sem sentido e intolerável. Tão sem
sentido e tão intolerável que as grandes massas materialmente civilizadas nem
sequer ainda tomaram consciência disso. Até agora, só os mais inteligentes é que
se conscientizaram. A reação a essa consciência, por parte daqueles cuja
inteligência não se faz acompanhar de talento nem de ímpeto criador, traduz-se
por um ódio intenso e uma ânsia de destruir. Esse tipo de inteligente
odiador-de-tudo foi aterradora e admiravelmente retratado por André Malraux em
seu romance Les Conquérants.
Recomendo sua leitura aos sociólogos.
Não está longe o tempo quando toda a
população, e não apenas uns poucos indivíduos, excepcionalmente inteligentes,
há de se dar conta conscientemente da inviabilidade fundamental da vida sob o
atual regime. E que acontecerá então? Perguntem a Malraux. A revolução que
então eclodirá não será de caráter comunista – não haverá necessidade de tal
espécie de revolução, como já demonstrei, e, de mais a mais, ninguém acreditará
no melhoramento da humanidade ou em nada parecido. Será uma revolução niilista.
A destruição pela destruição. Ódio, ódio universal, um arrasamento sem
propósito e, portanto, completo e rematado, de tudo. E o nivelamento dos rendimentos
pelo alto, ao acelerar a difusão da mecanização universal (maquinaria é coisa
cara), só fará acelerar o advento dessa grande orgia do niilismo universal.
Quanto mais ricos e mais materialmente civilizados nos tornarmos, mais
rapidamente ele chegará. Tudo o que podemos esperar é que ele não chegue em
nossos dias.”
(“Satânicos e Visionários”, Aldous
Huxley, Companhia Editora Americana, Rio de Janeiro, 1975, obra escrita em
1929, Página 146.)
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