quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Revolução niilista

      “O grande problema do sistema social e industrial de hoje não é que ele faça algumas pessoas muito mais ricas do que outras, mas é porque torna a vida fundamentalmente invisível para todos. Agora que não apenas o trabalho, mas também o lazer, se tornou completamente mecanizado; agora que, a cada novo aperfeiçoamento da organização social, o indivíduo acha-se ainda mais degradado de sua dignidade humana como simples corporificação de uma função social; agora que as distrações pré-fabricadas e embrutecedoras difundem um tédio cada vez maior em esferas cada vez mais amplas, - agora a existência tornou-se sem sentido e intolerável. Tão sem sentido e tão intolerável que as grandes massas materialmente civilizadas nem sequer ainda tomaram consciência disso. Até agora, só os mais inteligentes é que se conscientizaram. A reação a essa consciência, por parte daqueles cuja inteligência não se faz acompanhar de talento nem de ímpeto criador, traduz-se por um ódio intenso e uma ânsia de destruir. Esse tipo de inteligente odiador-de-tudo foi aterradora e admiravelmente retratado por André Malraux em seu romance Les Conquérants. Recomendo sua leitura aos sociólogos.

      Não está longe o tempo quando toda a população, e não apenas uns poucos indivíduos, excepcionalmente inteligentes, há de se dar conta conscientemente da inviabilidade fundamental da vida sob o atual regime. E que acontecerá então? Perguntem a Malraux. A revolução que então eclodirá não será de caráter comunista – não haverá necessidade de tal espécie de revolução, como já demonstrei, e, de mais a mais, ninguém acreditará no melhoramento da humanidade ou em nada parecido. Será uma revolução niilista. A destruição pela destruição. Ódio, ódio universal, um arrasamento sem propósito e, portanto, completo e rematado, de tudo. E o nivelamento dos rendimentos pelo alto, ao acelerar a difusão da mecanização universal (maquinaria é coisa cara), só fará acelerar o advento dessa grande orgia do niilismo universal. Quanto mais ricos e mais materialmente civilizados nos tornarmos, mais rapidamente ele chegará. Tudo o que podemos esperar é que ele não chegue em nossos dias.”

      (“Satânicos e Visionários”, Aldous Huxley, Companhia Editora Americana, Rio de Janeiro, 1975, obra escrita em 1929, Página 146.)

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