sábado, 5 de dezembro de 2015

Do soldado Svejk e do matricídio

      "As Aventuras do Bom Soldado Svejk", de Jaroslav Hasek.
      Resenha da Editora Objetiva.

      Escrito pouco depois da Primeira Guerra Mundial, na qual o autor lutou, ´As aventuras do bom soldado Svejk´ narra a história do anti-herói Josef Svejk, soldado tcheco com incrível e hilariante capacidade de se meter nas piores confusões. Personagem ambíguo, entre o tolo e o dissimulado, ele se envolve em inúmeras e impagáveis trapalhadas que, no entanto, não decorrem apenas de sua sagaz ingenuidade ou desastrada esperteza. O mundo de Svejk é extremamente cruel; ruma para a destruição, apesar da aparente hilaridade que cerca a ele e seus inconstantes companheiros. Ambientada nos anos iniciais da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a narrativa acompanha a labiríntica trajetória desse militar do Exército austro-húngaro, que já nas primeiras páginas é preso por ´alta traição´ e, logo em seguida, declarado demente por uma junta médica. Internado num manicômio, de onde é expulso, alista-se para combater no grande conflito global. Acaba relegado à ordenança de um capelão mulherengo, perdulário e alcoólatra, que o ´vende´ no jogo de cartas a um tenente. Os incontáveis episódios e contratempos fazem da leitura de ´As aventuras do bom soldado Svejk´, em edição traduzida diretamente do tcheco, uma experiência ímpar. Longe de ser mero ´testemunho´ da barbárie, o romance de Jaroslav Hasek usa a comicidade para refletir sobre o absurdo da guerra e dos regimes antidemocráticos. Ao encarar esse mundo como objeto de ficção, o riso talvez não tenha sido apenas uma escolha de Jaroslav Hasek, mas a única forma de expressar uma visão implacável da humanidade. Caudalosa e inacabada, a obra é sobretudo uma incômoda certeza de que para a humanidade não resta qualquer salvação.

      No Brasil, o escritor CULT Campos de Carvalho, na sua novela "A Vaca de Nariz Sutil", criou um personagem semelhante ao soldado Svejk. Lembro da cena daquele ex-combatente masturbando-se na trincheira num buraco feito no chão, numa relação "incestuosa" com a MÃE Terra. Aliás, sobre este tema-tabu, alguém já disse que a iniciação sexual feminina é tão importante que deveria ser um encargo do PAI.

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