Como sempre acontece, o Festival demorou
um tempo para começar, atrasado em mais de uma hora. Com as primeiras
apresentações, eu já não me achava muito consciente do que estava acontecendo.
Digamos, só pela metade, ou uns 30 a 40 por cento. De vez em quando via o Décio.
Numa dessas vezes, ele estava com uma rapariga. Apresentou-me a moça, dizendo o
seu nome. Qualquer coisa não estava certa; achei ela um pouco esquisita. A dita
cuja não dizia nada e não ria nunca. E voltei a circular pelo local. A
porcentagem de consciência foi caindo... 25... 20... 15... 10... 9... Uma hora,
não sei porque cargas d’água, cismei com o júri e fiquei logo abaixo da
plataforma, a bolsa a tiracolo, o cigarro na mão esquerda, a cerveja na mão
direita, a cabeça erguida em direção aos julgadores, e de minha boca saíram
impropérios e injúrias, em alta voz: - JURADOS MISERÁVEIS!... BANDO DE
LADRÕES!... SAFADOS!... E outras coisinhas mais!... Fui no bar pegar mais uma
lata.
Havia na nossa turma um indivíduo de cor
branca, com quase dois metros de altura, muito forte, que parecia um armário!
Mas, com um coração de menino! Ao vê-lo
parado no salão, perto do palco, com outros amigos nossos, aproximei-me do
grupo. Então, misteriosamente, sem motivo, virei a cabeça para a frente, como
se fosse um touro, corri em sua direção e dei-lhe uma tremenda cabeçada no
tórax, que quase o fez cair no chão. Ao se recuperar desta agressão
inexplicável, o gigante levantou a mão direita, fechou o punho e deu um soco no
alto da minha cabeça, que me derrubou no cimento, com bolsa, cerveja e tudo. Um
dos amigos me levantou e me levou até a rua. O soco daquela manzorra serviu
para me restituir mais ou menos uns 30 por cento de consciência. Fui no carro e
vi o Décio no banco de trás do Opala, aos beijos e abraços com a tal rapariga
estranha. Contei-lhe sobre a cabeçada e o soco, e lhe falei que já estava
ficando enjoado com aquele Festival de merda... e que seria melhor a gente ir
embora... Ele pegou a garota e voltamos ao salão. Nos servimos de mais cerveja.
Foi aí que um dos nossos amigos se acercou do Décio e lhe revelou que a moça
com a qual havia flertado o tempo todo era simplesmente... LOUCA!... Ele
engasgou com a cerveja, tossiu, virou-se para mim e falou: - Poetinha!... É
melhor a gente dar no pé!...
Entramos no Opala. Encaminhamo-nos para
um restaurante na cidade, onde comemos pizza (que não desceu muito bem) e
bebemos mais uma garrafa de cerveja. Depois que pagou, retornamos ao carro e
pegamos a estrada em direção a Juiz de Fora, sendo, então, mais de meia-noite.
Falei com o Décio para dirigir bem devagar e com muito cuidado, pois nós dois
estávamos bêbados. Felizmente, viajamos sem nenhum problema. Ao chegarmos,
disse-lhe que não seria nada recomendável que fôssemos para as nossas casas,
pois a sua mulher e a minha mãe não iriam gostar de nos ver naquele estado. Ele
concordou. Seguiu para a casa do seu pai, em São Mateus, onde pudemos dormir
sem sermos incomodados por ninguém. Mais tarde, fiquei sabendo que por pouco
não quebrei algumas costelas do “grandão”... Na próxima vez que o vi, pedi
sinceras desculpas pelo ocorrido. Quanto ao Festival em si, não fiquei sabendo
qual foi o resultado, nem tive o mínimo interesse em saber.
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