sábado, 5 de dezembro de 2015

Turma do Beco 7 – Porre Duplo (Parte 2)

         Como sempre acontece, o Festival demorou um tempo para começar, atrasado em mais de uma hora. Com as primeiras apresentações, eu já não me achava muito consciente do que estava acontecendo. Digamos, só pela metade, ou uns 30 a 40 por cento. De vez em quando via o Décio. Numa dessas vezes, ele estava com uma rapariga. Apresentou-me a moça, dizendo o seu nome. Qualquer coisa não estava certa; achei ela um pouco esquisita. A dita cuja não dizia nada e não ria nunca. E voltei a circular pelo local. A porcentagem de consciência foi caindo... 25... 20... 15... 10... 9... Uma hora, não sei porque cargas d’água, cismei com o júri e fiquei logo abaixo da plataforma, a bolsa a tiracolo, o cigarro na mão esquerda, a cerveja na mão direita, a cabeça erguida em direção aos julgadores, e de minha boca saíram impropérios e injúrias, em alta voz: - JURADOS MISERÁVEIS!... BANDO DE LADRÕES!... SAFADOS!... E outras coisinhas mais!... Fui no bar pegar mais uma lata.
      Havia na nossa turma um indivíduo de cor branca, com quase dois metros de altura, muito forte, que parecia um armário! Mas, com  um coração de menino! Ao vê-lo parado no salão, perto do palco, com outros amigos nossos, aproximei-me do grupo. Então, misteriosamente, sem motivo, virei a cabeça para a frente, como se fosse um touro, corri em sua direção e dei-lhe uma tremenda cabeçada no tórax, que quase o fez cair no chão. Ao se recuperar desta agressão inexplicável, o gigante levantou a mão direita, fechou o punho e deu um soco no alto da minha cabeça, que me derrubou no cimento, com bolsa, cerveja e tudo. Um dos amigos me levantou e me levou até a rua. O soco daquela manzorra serviu para me restituir mais ou menos uns 30 por cento de consciência. Fui no carro e vi o Décio no banco de trás do Opala, aos beijos e abraços com a tal rapariga estranha. Contei-lhe sobre a cabeçada e o soco, e lhe falei que já estava ficando enjoado com aquele Festival de merda... e que seria melhor a gente ir embora... Ele pegou a garota e voltamos ao salão. Nos servimos de mais cerveja. Foi aí que um dos nossos amigos se acercou do Décio e lhe revelou que a moça com a qual havia flertado o tempo todo era simplesmente... LOUCA!... Ele engasgou com a cerveja, tossiu, virou-se para mim e falou: - Poetinha!... É melhor a gente dar no pé!...
      Entramos no Opala. Encaminhamo-nos para um restaurante na cidade, onde comemos pizza (que não desceu muito bem) e bebemos mais uma garrafa de cerveja. Depois que pagou, retornamos ao carro e pegamos a estrada em direção a Juiz de Fora, sendo, então, mais de meia-noite. Falei com o Décio para dirigir bem devagar e com muito cuidado, pois nós dois estávamos bêbados. Felizmente, viajamos sem nenhum problema. Ao chegarmos, disse-lhe que não seria nada recomendável que fôssemos para as nossas casas, pois a sua mulher e a minha mãe não iriam gostar de nos ver naquele estado. Ele concordou. Seguiu para a casa do seu pai, em São Mateus, onde pudemos dormir sem sermos incomodados por ninguém. Mais tarde, fiquei sabendo que por pouco não quebrei algumas costelas do “grandão”... Na próxima vez que o vi, pedi sinceras desculpas pelo ocorrido. Quanto ao Festival em si, não fiquei sabendo qual foi o resultado, nem tive o mínimo interesse em saber.

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