quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Cristianismo, capitalismo e putaria

      O texto a seguir é do meu romance “O Templo do Amor”, o qual comecei a redigir e depois desisti.

      - O que é que estavas lendo, professor?

      Mário virou o volume, tornando a capa visível. Cristina leu primeiramente o título; falou depois o nome do autor.

      - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo... Max Weber... O que fala este livro?

      - É um assunto bastante complicado.

      - Dá um jeito de simplificar, de resumir. Explica de tal modo que eu entenda.

      - Tentarei, querida. Vejamos. Uns quinhentos anos atrás, a religião católica foi dividida em várias outras, como o protestantismo, a igreja batista, o presbiterianismo, etc. Os novos cristãos foram chamados de puritanos, entre outros nomes. Puritano era o indivíduo muito rigoroso, rígido e moralista. A diferença era a seguinte. Os católicos continuaram os mesmos, não dando valor excessivo à vida material e se concentrando mais no Novo Testamento da Bíblia, que trata da mensagem de Jesus Cristo. Os protestantes, ao contrário, passaram a valorizar a existência física, social e econômica. Além disso, deram tanta importância ao Novo como ao Velho Testamento. O Antigo Testamento conta a história dos judeus, sem mencionar Jesus nenhuma vez. Muito bem. No início, os protestantes, ao mesmo tempo que corriam atrás da riqueza, à medida que ficavam mais ricos, conseguiram colocar um freio na tentação de gozar os prazeres do conforto. Alguns, apesar de milionários, viviam de forma simples, sem luxo. Com o passar do tempo, o rigor foi diminuindo até se perderem quase todos os elementos espirituais, só restando a ambição pelo dinheiro, ficando apenas o desejo de gozar a vida, tudo que a fortuna pode dar. O autor, Max Weber, diz que a procura dos puritanos por abundância material produziu o moderno capitalismo. Naturalmente tu sabes, querida, que o capitalismo é o sistema econômico sob o qual todos nós vivemos. Vou resumir. Os protestantes enfiaram na cabeça que tinham de enriquecer para serem agradáveis a Deus. Quanto mais ricos, mais Deus os amava. Desta forma, se fizeram grandes fortunas, empresas mundiais, redes de comércio internacionais. Quanto aos proletários, os trabalhadores pobres, que sobreviviam de pequenos salários, em condições miseráveis, consideravam-se também amados por Deus por causa do trabalho duro e honesto que faziam. Assim, enquanto os ricos permaneciam com a consciência tranquila, sabendo que Deus aprovava a sua ganância por mais lucros e mais bens materiais, os pobres se conformavam com o seu humilde labor. Resumindo de novo. Ser rico, era agradar a Deus; ser pobre, era esperar pela recompensa do céu após a morte.

      - Se os puritanos acreditavam que Deus ficava muito feliz com a sua riqueza, eles eram COMPLETAMENTE LOUCOS!... Esta é a coisa mais ABSURDA que já ouvi na vida!... Deus quer apenas que sejamos bons... Só deseja que amemos uns aos outros... Endeusar o dinheiro é completa loucura...

      - Concordo contigo em gênero, número e grau – disse Mário, empolgado pela percuciente conclusão da garota. – É claro que por trás desta atitude INSANA, estão os judeus. Mas, isto é complexo demais para discutirmos.

      - Nunca fui religiosa. Eu não gosto de igrejas, nem de padres. Dias atrás, um pastor evangélico tentou me converter. Adivinha o que aconteceu?

      - Isto é fácil... Tu o seduzistes...

      - Primeiro ele gozou espontaneamente quando enfiei a mão dentro da calcinha e comecei a masturbar na sua frente. O coitado não pode resistir. Fui eu que o converti ao meu sexo.

      - Cristina, tu és o máximo!...

      - Como eu dizia, detesto as religiões. Deus está longe delas. Eu creio nele quando estou gozando. Eu mais o amo quando sinto orgasmo. É quando faço amor que toco a Divindade.

      Mário percebeu que a menina abordou um assunto altamente revolucionário. Entendeu que tinha diante de si um gênio feminino em estado ainda selvagem. Precisava assumir a responsabilidade por ela, fazê-la voltar aos estudos, orientá-la.

      - Cristina, deixa eu te explicar uma coisa. O cristianismo, antes da reforma protestante de quinhentos anos atrás, e depois dela, em todo o tempo, sempre fez a propaganda de certos valores, que não passam de virtudes de escravos: a mansidão que leva à covardia; a humildade, a gerar humilhação; a bondade, a beirar o servilismo; a complacência, a enfraquecer a alma; a obediência, a negar o próprio ego; o conformismo, pai da escravidão. As virtudes dos poderosos, como força, coragem, autoridade, vontade e sabedoria, estas não foram divulgadas para a população. A cruz de Cristo foi posta como símbolo e modelo de vida: dor e sofrimento. Pelo pecado original, todos nasciam cheios de culpa. A posição física dentro dos templos, de joelhos e de cabeça baixa, sugeria submissão. A condenação de todos os prazeres dos sentidos como graves pecados, principalmente o sexo, tinha como objetivo manter o povo entregue exclusivamente ao trabalho, tornando os patrões mais ricos. Os bispos, padres e monges, nos sermões, condenavam os nobres que viviam luxuosamente, dizendo que iriam todos para o inferno. Ao mesmo tempo, elogiavam a vida dura e trabalhadora dos pobres, prometendo-lhes o paraíso quando morressem. A maior parte da massa operária acreditou nesta mentira. Os que viviam em castelos, que possuíam muitas posses, entregavam-se despreocupadamente a todos os gozos e vícios imagináveis, sem dar a mínima ao que pregavam os religiosos. Estes, se associavam à nobreza, fazendo da gula e da luxúria o principal elemento da existência. Assim, a Igreja de Cristo cumpriu a sua função política e econômica, enganando os camponeses com promessas mirabolantes, protegendo os aristocratas, que enriqueciam às custas dos miseráveis, em meio a orgias e banquetes. A religião cristã mudou, pois o mundo se transformou. Mas, no fundo, é a mesma de antes. Usando um trocadilho, eu chamo o cristianismo de TRISTIANISMO... É uma verdadeira TRISTEZA!... Portanto, minha querida, estás absolutamente certa quando desprezas um fenômeno religioso que ainda teima em ficar de pé, esclerosado e decadente, a valorizar as qualidades dos fracos, a negar a reencarnação, a condenar o sexo, a considerar mitos e fantasias como reais, a impor os seus dogmas, a desconhecer a divindade no próprio ser humano. Querida, Deus está em tua vagina e no meu pênis. Quando os dois se unirem, Ele se manifestará no amor que sentirmos um pelo outro. Eis a verdadeira religião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário