O texto a seguir é do meu romance “O
Templo do Amor”, o qual comecei a redigir e depois desisti.
- O que é que estavas lendo, professor?
Mário virou o volume, tornando a capa
visível. Cristina leu primeiramente o título; falou depois o nome do autor.
- A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo... Max Weber... O que fala este
livro?
- É um assunto bastante complicado.
- Dá um jeito de simplificar, de resumir.
Explica de tal modo que eu entenda.
- Tentarei, querida. Vejamos. Uns
quinhentos anos atrás, a religião católica foi dividida em várias outras, como
o protestantismo, a igreja batista, o presbiterianismo, etc. Os novos cristãos
foram chamados de puritanos, entre outros nomes. Puritano era o indivíduo muito
rigoroso, rígido e moralista. A diferença era a seguinte. Os católicos
continuaram os mesmos, não dando valor excessivo à vida material e se
concentrando mais no Novo Testamento da Bíblia, que trata da mensagem de Jesus
Cristo. Os protestantes, ao contrário, passaram a valorizar a existência
física, social e econômica. Além disso, deram tanta importância ao Novo como ao
Velho Testamento. O Antigo Testamento conta a história dos judeus, sem
mencionar Jesus nenhuma vez. Muito bem. No início, os protestantes, ao mesmo
tempo que corriam atrás da riqueza, à medida que ficavam mais ricos,
conseguiram colocar um freio na tentação de gozar os prazeres do conforto.
Alguns, apesar de milionários, viviam de forma simples, sem luxo. Com o passar
do tempo, o rigor foi diminuindo até se perderem quase todos os elementos
espirituais, só restando a ambição pelo dinheiro, ficando apenas o desejo de
gozar a vida, tudo que a fortuna pode dar. O autor, Max Weber, diz que a
procura dos puritanos por abundância material produziu o moderno capitalismo.
Naturalmente tu sabes, querida, que o capitalismo é o sistema econômico sob o
qual todos nós vivemos. Vou resumir. Os protestantes enfiaram na cabeça que
tinham de enriquecer para serem agradáveis a Deus. Quanto mais ricos, mais Deus
os amava. Desta forma, se fizeram grandes fortunas, empresas mundiais, redes de
comércio internacionais. Quanto aos proletários, os trabalhadores pobres, que
sobreviviam de pequenos salários, em condições miseráveis, consideravam-se
também amados por Deus por causa do trabalho duro e honesto que faziam. Assim,
enquanto os ricos permaneciam com a consciência tranquila, sabendo que Deus
aprovava a sua ganância por mais lucros e mais bens materiais, os pobres se
conformavam com o seu humilde labor. Resumindo de novo. Ser rico, era agradar a
Deus; ser pobre, era esperar pela recompensa do céu após a morte.
- Se os puritanos acreditavam que Deus
ficava muito feliz com a sua riqueza, eles eram COMPLETAMENTE LOUCOS!... Esta é
a coisa mais ABSURDA que já ouvi na vida!... Deus quer apenas que sejamos
bons... Só deseja que amemos uns aos outros... Endeusar o dinheiro é completa
loucura...
- Concordo contigo em gênero, número e
grau – disse Mário, empolgado pela percuciente conclusão da garota. – É claro
que por trás desta atitude INSANA, estão os judeus. Mas, isto é complexo demais
para discutirmos.
- Nunca fui religiosa. Eu não gosto de
igrejas, nem de padres. Dias atrás, um pastor evangélico tentou me converter.
Adivinha o que aconteceu?
- Isto é fácil... Tu o seduzistes...
- Primeiro ele gozou espontaneamente
quando enfiei a mão dentro da calcinha e comecei a masturbar na sua frente. O
coitado não pode resistir. Fui eu que o converti ao meu sexo.
- Cristina, tu és o máximo!...
- Como eu dizia, detesto as religiões.
Deus está longe delas. Eu creio nele quando estou gozando. Eu mais o amo quando
sinto orgasmo. É quando faço amor que toco a Divindade.
Mário percebeu que a menina abordou um
assunto altamente revolucionário. Entendeu que tinha diante de si um gênio
feminino em estado ainda selvagem. Precisava assumir a responsabilidade por
ela, fazê-la voltar aos estudos, orientá-la.
- Cristina, deixa eu te explicar uma
coisa. O cristianismo, antes da reforma protestante de quinhentos anos atrás, e
depois dela, em todo o tempo, sempre fez a propaganda de certos valores, que
não passam de virtudes de escravos: a mansidão que leva à covardia; a
humildade, a gerar humilhação; a bondade, a beirar o servilismo; a
complacência, a enfraquecer a alma; a obediência, a negar o próprio ego; o
conformismo, pai da escravidão. As virtudes dos poderosos, como força, coragem,
autoridade, vontade e sabedoria, estas não foram divulgadas para a população. A
cruz de Cristo foi posta como símbolo e modelo de vida: dor e sofrimento. Pelo
pecado original, todos nasciam cheios de culpa. A posição física dentro dos
templos, de joelhos e de cabeça baixa, sugeria submissão. A condenação de todos
os prazeres dos sentidos como graves pecados, principalmente o sexo, tinha como
objetivo manter o povo entregue exclusivamente ao trabalho, tornando os patrões
mais ricos. Os bispos, padres e monges, nos sermões, condenavam os nobres que
viviam luxuosamente, dizendo que iriam todos para o inferno. Ao mesmo tempo,
elogiavam a vida dura e trabalhadora dos pobres, prometendo-lhes o paraíso
quando morressem. A maior parte da massa operária acreditou nesta mentira. Os
que viviam em castelos, que possuíam muitas posses, entregavam-se
despreocupadamente a todos os gozos e vícios imagináveis, sem dar a mínima ao
que pregavam os religiosos. Estes, se associavam à nobreza, fazendo da gula e
da luxúria o principal elemento da existência. Assim, a Igreja de Cristo
cumpriu a sua função política e econômica, enganando os camponeses com promessas
mirabolantes, protegendo os aristocratas, que enriqueciam às custas dos
miseráveis, em meio a orgias e banquetes. A religião cristã mudou, pois o mundo
se transformou. Mas, no fundo, é a mesma de antes. Usando um trocadilho, eu
chamo o cristianismo de TRISTIANISMO... É uma verdadeira TRISTEZA!... Portanto,
minha querida, estás absolutamente certa quando desprezas um fenômeno religioso
que ainda teima em ficar de pé, esclerosado e decadente, a valorizar as
qualidades dos fracos, a negar a reencarnação, a condenar o sexo, a considerar
mitos e fantasias como reais, a impor os seus dogmas, a desconhecer a divindade
no próprio ser humano. Querida, Deus está em tua vagina e no meu pênis. Quando
os dois se unirem, Ele se manifestará no amor que sentirmos um pelo outro. Eis
a verdadeira religião.
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