“ – Genoca, o dinheiro tem uma
importância brutal na vida. Eu às vezes penso se não fui uma besta vivendo como
sempre vivi... Não tanto por minha causa, porque no fim de contas cada um pode
fazer o que bem entender com a carcaça que Deus lhe deu. Mas qualquer hora eu
morro. Muito bem, não se perde grande coisa... Mas que vai ser da minha
família, da minha velha, da minha filha? Nunca pude manter um seguro, os que
cheguei a fazer caducaram... Economias? Nem me fale... Seu Genoca, o dinheiro
tem uma importância cachorra!
(...)
- Para muitos a profissão médica não
passa dum balcão... O que importa é a féria. Você não leu o jornal o outro dia?
Um grupo de médicos numa cidade dos Estados Unidos combinou-se pra simular uma
operação numa viúva milionária. Inventaram uma doença, botaram a miserável na
mesa de operação, abriram-lhe a barriga e fecharam em seguida sem tocar numa
tripa. Bumba! A mulher morreu. A conta foi de um milhão ou coisa parecida.
Gangsters! E tudo por causa do dinheiro. – Chupou o cigarro de palha. – Seu
Eugênio, ouça o que lhe digo. O dinheiro é uma coisa nojenta. Um sujeito decente
não se escraviza a ele.”
(“Olhai os Lírios do Campo”, Érico
Veríssimo, Editora Globo, Porto Alegre, 1973, Páginas 190-191.)
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