terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A escravidão ao dinheiro

      “ – Genoca, o dinheiro tem uma importância brutal na vida. Eu às vezes penso se não fui uma besta vivendo como sempre vivi... Não tanto por minha causa, porque no fim de contas cada um pode fazer o que bem entender com a carcaça que Deus lhe deu. Mas qualquer hora eu morro. Muito bem, não se perde grande coisa... Mas que vai ser da minha família, da minha velha, da minha filha? Nunca pude manter um seguro, os que cheguei a fazer caducaram... Economias? Nem me fale... Seu Genoca, o dinheiro tem uma importância cachorra!
      (...)
      - Para muitos a profissão médica não passa dum balcão... O que importa é a féria. Você não leu o jornal o outro dia? Um grupo de médicos numa cidade dos Estados Unidos combinou-se pra simular uma operação numa viúva milionária. Inventaram uma doença, botaram a miserável na mesa de operação, abriram-lhe a barriga e fecharam em seguida sem tocar numa tripa. Bumba! A mulher morreu. A conta foi de um milhão ou coisa parecida. Gangsters! E tudo por causa do dinheiro. – Chupou o cigarro de palha. – Seu Eugênio, ouça o que lhe digo. O dinheiro é uma coisa nojenta. Um sujeito decente não se escraviza a ele.”

      (“Olhai os Lírios do Campo”, Érico Veríssimo, Editora Globo, Porto Alegre, 1973, Páginas 190-191.)

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