sábado, 16 de janeiro de 2016

Turma do Beco 28 – Tragédia carnavalesca

            “Ainda na década de 50, um dos pontos altos de qualquer desfile de Escola de Samba era o carro alegórico. A importância que se dava ao préstito (uma herança dos Ranchos) representativo, fator decisivo de agrado popular, transcendia, era bem maior do que aquela que se dava à coreografia e mesmo ao samba ou à bateria. Quem não ‘armasse’ um carro alegórico conforme mandava o figurino (geralmente homenageando alguém de projeção nacional ou simbolizando uma passagem histórica) perdia prestígio de véspera. Constituía peça fundamental dos desfiles. E as Escolas tinham seus especialistas, seus artistas, numa complicada alquimia de revestimento dos bonecos-personagens: com jornal velho e grude se conseguia uma massa, que encorpava as figuras, uma pasta de certa resistência. E num dos carnavais do princípio da mencionada década, a Feliz Lembrança, graças ao trabalho de várias equipes se revezando, após uma noite inteira de trabalho, finalizou um carro – Lincoln Brandi à frente – cuja base, superfície, tinha sido inteiramente coberta com capim gordura, apanhado no dia e a ela fixado com grude. Exaustos, antes do amanhecer, deixaram-no num depósito de lenha que havia no quintal da casa do Gilson Campos, na Avenida Sete, sob uma providencial cobertura de zinco – uma medida das mais sensatas, visto que o tempo achava-se instável e qualquer chuvinha poria abaixo o árduo trabalho de semanas, o que seria um desastre para a Escola que desfilaria no dia seguinte. Pois bem, dia seguinte, todos levantados e satisfeitos com o resultado da empreitada, se dirigem ao local, com a tranquilidade dos que cumprem as tarefas à risca, e deparam com uma inacreditável visão: o carro estava todo destruído, impraticável de sair. O seguinte: no referido depósito de lenha pernoitava um burro, evidentemente subnutrido porque longe dos pastos, que não resistiu ao frescor daquele capim molhado, bem à sua disposição – quem sabe, o seu mais impossível sonho desde que perdeu o antigo verde dos pastos... Tudo por água abaixo, e um burro alimentado. O pior, diz Olber de Oliveira Alves (B.O), é que o burro se chamava ‘Paulista’...”

      (“História Recente da Música Popular Brasileira de Juiz de Fora – 1945 a 1975”, Carlos Décio Mostaro, João Medeiros Filho e Roberto Faria de Medeiros, Edição dos Autores, Juiz de Fora, 1977, Página 73.)

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