segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Bombas imorais

      Sempre que uma categoria profissional entra em negociações com o seu patrão, seja ele público ou privado, reivindicando melhoria de salários e/ou de condições de trabalho, a luta é sempre muito acirrada, na maior parte das vezes com resultados inexpressivos. Tais negociações às vezes se estendem por meses. Quando não há acordo, a opção é a greve, a qual é garantida pela Constituição. Os trabalhadores vão para as ruas fazer os seus protestos, tentando sensibilizar o setor patronal e a opinião pública a seu favor. E todo mundo sabe que, quando uma multidão se reúne, os ânimos se acirram e é facílimo abandonar os modos civilizados para se passar a reações violentas. Nestes momentos, eis que entra em cena... tchan, tchan, tchan, tchan... a POLÍCIA. O argumento para a repressão dos cassetetes é “manter a ordem pública”. Em realidade, trata-se de preservar é a “ordem dos poderosos”, os seus interesses econômicos na eterna exploração do capital em cima do trabalho, seja ele o Estado, autarquias ou empresas particulares. Isto ocorre no mundo todo e a todo o tempo, sob a égide de um capitalismo sempre selvagem e vampiresco. E quando os explorados trabalhadores, tratados então como “baderneiros”, excedem um pouco em suas manifestações de rua, devido, é claro, a muita frustração e indignação, então os Batalhões de Choque da Polícia, treinados para as batalhas urbanas em defesa do sacrossanto establishment, lançam mão de jatos de água e bombas de efeito... MORAL...
      É aqui que eu queria chegar. Cheguei.
      Vejam, senhoras e senhores, que primor de expressão!... É de enternecer!... Vou até repetir: Bombas de Efeito... M-O-R-A-L... Quanto refinamento e sutileza o Sistema possui!... Esta expressão capciosa deixa transparecer uma poderosa mensagem subliminar, qual seja a de que o aparato repressor é MORAL, enquanto os manifestantes são manifestamente IMORAIS. O correto seria usar “Bombas de Efeito Disuasivo”. Mas isto é por demais elegante. E o Sistemão nunca é correto e nem tampouco elegante. É mais fácil e mais atenuante colocar logo um MORAL pela frente. E lá vai cassetada... vamos molhar este bando de sujos... dá-lhe bombas ÉTICAS... gás lacrimogênio... É de chorar!!!... Enquanto isto, a classe patronal mantém os seus lucros exorbitantes em cima do suor e do sangue dos escravizados e vampirizados operários. 

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