quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O filme mais doido que já vi!...

      “A Montanha Sagrada, de Alejandro Jodorowsky.

      Este foi seguramente o filme mais doido que já vi. Infelizmente as legendas em espanhol estão desencontradas das falas. Não foi uma produção barata, e dura quase duas horas. No começo há uma engraçada sátira da guerra entre os astecas-camaleões e os espanhóis-sapos. A primeira parte faz uma crítica ferina e severa ao Cristianismo, com o Jesus-Ladrão quebrando cruxifixos, a Maria Madalena com um macaco, e outras imagens surrealistas. O melhor é a transmutação do cocô de Cristo em ouro, nas parafernálias alquímicas dos alambiques e retortas. “Tu eras merda. Podes mudar-te a ti mesmo em ouro.” Em seguida Jodorowsky penetra em elementos e simbologias esotéricos. Então começa a surgir os personagens astrológicos. O de Vênus produz produtos de beleza e cuida da aparência humana. O de Marte fabrica armas. Vemos soldados jogando seus corpos contra baionetas, num gesto inverso. Umas drogas provocam delírios de grandeza, e outras transformam pessoas inofensivas em animais perigosos. Há também pistolas psicodélicas e armas rock’n’roll. O de Júpiter, muito rico, cultua a arte erótica. Um falo gigantesco penetra numa máquina vaginal, provocando um grande orgasmo. O de Saturno dedica-se à política, condicionando a juventude para o ódio e a guerra. O de Urano é o conselheiro econômico do Presidente. “Para salvar a economia é necessário eliminar 4 milhões de cidadãos nos próximos 5 anos.” O de Netuno coleciona um santuário de mil testículos. E o de Plutão atua na arquitetura, quando se fala dos sem-tetos. Finda esta crítica social, num show de non-sense e absurdos, o cineasta fala das Montanhas Sagradas existentes no mundo: o Monte Meru indiano, a Montanha dos Taoístas, o Karakorum do Himalaia, e outras. Nove homens imortais vivem em cima da Montanha Sagrada da Ilha do Lotus, de onde dirigem nosso mundo. E temos realmente no meio ocultista a Lenda dos Nove Superiores Desconhecidos. O mestre-alquimista, interpretado por Jodorowsky, reúne os sete personagens astrológicos, mais o Jesus-Ladrão, mais sua assistente, e estes nove recebem a missão de roubar o segredo da imortalidade daqueles imortais. É preciso renunciar à individualidade e ser um ente coletivo. Há uma queima simbólica de dinheiro. “Devemos destruir nosso eu vacilante, inquieto, incerto, cheio de desejos, distraído, confuso.” Partem em busca da “Água Sagrada”. Acertou em cheio: a Fonte da Juventude é sempre uma “Água”, a ÁGUA-VIVA. Eu a encontrei. Só não é tão poderosa quanto à de Ayham Doyuk. Nesta altura do filme, onde é mostrada a morte e o renascimento, a queima do ego, a perda da personalidade e a posse do EU, é retratado um autêntico processo iniciático e místico. “Nosso pensamento tem forma. Tu tens um monstro na mente.” Lembrei-me do fantástico “O Livro de Mirdad”, de Mikhail Naimy, que tenho em meu poder. Jodorowsky brinca com a contracultura da época: a pedra filosofal dos alquimistas era LSD; o Apocalipse descreve uma experiência com mescalina. Na busca pela Montanha Sagrada, os nove peregrinos, mais o mestre, são distraídos por vários personagens. Finalmente o grupo chega ao seu destino. E não há nenhum imortal sentado à mesa-redonda, onde se vê o eneagrama desenhado. O alquimista dirige-se ao grupo desta forma: “Viemos em busca da imortalidade, mas continuamos humanos. Encontramos a realidade. Esta vida é a realidade? Não. É um filme. (A câmera abre e mostra todo o set de filmagem.) Somos imagens, sonhos, fotografias. Devemos romper a ilusão. Isto é Magia.” EXTRAORDINÁRIO!!!...

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