“A
Montanha Sagrada, de Alejandro Jodorowsky.
Este foi
seguramente o filme mais doido que já vi. Infelizmente as legendas em espanhol
estão desencontradas das falas. Não foi uma produção barata, e dura quase duas
horas. No começo há uma engraçada sátira da guerra entre os astecas-camaleões e
os espanhóis-sapos. A primeira parte faz uma crítica ferina e severa ao
Cristianismo, com o Jesus-Ladrão quebrando cruxifixos, a Maria Madalena com um
macaco, e outras imagens surrealistas. O melhor é a transmutação do cocô de
Cristo em ouro, nas parafernálias alquímicas dos alambiques e retortas. “Tu
eras merda. Podes mudar-te a ti mesmo em ouro.” Em seguida Jodorowsky penetra
em elementos e simbologias esotéricos. Então começa a surgir os personagens
astrológicos. O de Vênus produz produtos de beleza e cuida da aparência humana.
O de Marte fabrica armas. Vemos soldados jogando seus corpos contra baionetas,
num gesto inverso. Umas drogas provocam delírios de grandeza, e outras
transformam pessoas inofensivas em animais perigosos. Há também pistolas
psicodélicas e armas rock’n’roll. O de Júpiter, muito rico, cultua a arte
erótica. Um falo gigantesco penetra numa máquina vaginal, provocando um grande
orgasmo. O de Saturno dedica-se à política, condicionando a juventude para o
ódio e a guerra. O de Urano é o conselheiro econômico do Presidente. “Para
salvar a economia é necessário eliminar 4 milhões de cidadãos nos próximos 5
anos.” O de Netuno coleciona um santuário de mil testículos. E o de Plutão atua
na arquitetura, quando se fala dos sem-tetos. Finda esta crítica social, num
show de non-sense e absurdos, o cineasta fala das Montanhas Sagradas existentes
no mundo: o Monte Meru indiano, a Montanha dos Taoístas, o Karakorum do
Himalaia, e outras. Nove homens imortais vivem em cima da Montanha Sagrada da
Ilha do Lotus, de onde dirigem nosso mundo. E temos realmente no meio ocultista
a Lenda dos Nove Superiores Desconhecidos. O mestre-alquimista, interpretado
por Jodorowsky, reúne os sete personagens astrológicos, mais o Jesus-Ladrão,
mais sua assistente, e estes nove recebem a missão de roubar o segredo da
imortalidade daqueles imortais. É preciso renunciar à individualidade e ser um
ente coletivo. Há uma queima simbólica de dinheiro. “Devemos destruir nosso eu
vacilante, inquieto, incerto, cheio de desejos, distraído, confuso.” Partem em
busca da “Água Sagrada”. Acertou em cheio: a Fonte da Juventude é sempre uma
“Água”, a ÁGUA-VIVA. Eu a encontrei. Só não é tão poderosa quanto à de Ayham
Doyuk. Nesta altura do filme, onde é mostrada a morte e o renascimento, a
queima do ego, a perda da personalidade e a posse do EU, é retratado um
autêntico processo iniciático e místico. “Nosso pensamento tem forma. Tu tens
um monstro na mente.” Lembrei-me do fantástico “O Livro de Mirdad”, de Mikhail
Naimy, que tenho em meu poder. Jodorowsky brinca com a contracultura da época:
a pedra filosofal dos alquimistas era LSD; o Apocalipse descreve uma
experiência com mescalina. Na busca pela Montanha Sagrada, os nove peregrinos,
mais o mestre, são distraídos por vários personagens. Finalmente o grupo chega
ao seu destino. E não há nenhum imortal sentado à mesa-redonda, onde se vê o
eneagrama desenhado. O alquimista dirige-se ao grupo desta forma: “Viemos em busca
da imortalidade, mas continuamos humanos. Encontramos a realidade. Esta vida é
a realidade? Não. É um filme. (A câmera abre e mostra todo o set de filmagem.)
Somos imagens, sonhos, fotografias. Devemos romper a ilusão. Isto é Magia.”
EXTRAORDINÁRIO!!!...
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