Naquele extraordinário filme de Felini,
“Casanova”, há cenas inesquecíveis. Mesmo após ter passado tantos anos de o ter
assistido, ainda me lembro de várias passagens expressivas e de grande impacto
visual. Antes de tudo, e logo no início, o mar de plástico. A transa com a
velha alquimista. O concurso sexual. A sua bela e nova paixão ao piano, e o
medo de perdê-la. O grande amante velho, dançando com a vassoura. Há uma
sequência que me marcou de uma forma especial. Casanova encontra-se numa
carruagem, com a mãe e a filha. Estas o expulsam do veículo, numa ponte perto
de Londres. Ele fica indignado. Vê um rio e decidi se matar, afogando-se. Veste
a sua melhor roupa e começa a descer uma escadinha, entrando na água, a recitar
versos de Tasso, em grande estilo. É quando ele vê uma cena inusitada: uma
mulher enorme, acompanhada por dois anões. Espicaçado pela curiosidade,
interrompe o suicídio e descobre que a giganta pertence a uma troupe de
artistas mambembes. Ele suborna os anões para vê-la tomar banho numa enorme
tina. Mas há uma baleia, com uma bocarra aberta, e alguém apregoando: - Entrem na
Grande Mouna. Casanova penetra naquele símbolo óbvio da vagina, com desenhos na
parede. No fundo, sentado numa mesa, a beber, vemos um homem solitário. Eu
sempre considerei este indivíduo como o símbolo de todos os artistas, como
também, idealmente, um Mestre Tântrico. Associo-o a Paul, de “O Último Tango em
Paris”, dando aquele seu grito de angústia no meio da rua. SOLIDÃO, DOR e
SABEDORIA.
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