“Viver
como certos homens vivem é simplesmente inumano. Procurar a riqueza por amor é
fugir da vida. Procurar a paz e a felicidade através do dinheiro é qualquer
coisa que se parece com o espírito daquele macaco da história infantil.
Deram-lhe um bocado de leite numa panela e para ter a ilusão de que tinha a panela
sempre cheia, o macaco punha o leite a ferver para que a espuma crescesse e
transbordasse.
Não tenho nenhuma prevenção contra os ricos, seria tolo se tivesse. Há
os que sabem empregar humanamente a sua riqueza. Elogiar a pobreza seria também
doentio. O mundo foi feito para que todos nele tivessem um lugar decente. Não
há nada que melhor ilustre a moral egoísta de certas criaturas do que a fábula
da cigarra e da formiga. Parece que a cigarra leu o Sermão da Montanha e quis
imitar os lírios do campo. Passou o verão a cantar, ao passo que as formigas
trabalhavam e mais trabalhavam como os homens que, à maneira desse teu amigo
Lobo, vivem às cegas, só pensam em dinheiro, esquecidos de que são mortais e de
que existe o sol, os campos e as cigarras. O ideal, meu querido, seria um mundo
em que cigarras e formigas vivessem em harmonia inteligente.”
(“Olhai os Lírios do Campo”, Érico
Veríssimo, Editora Globo, Porto Alegre, 1973, Página 196.)
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