quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Cigarras e formigas

      “Viver como certos homens vivem é simplesmente inumano. Procurar a riqueza por amor é fugir da vida. Procurar a paz e a felicidade através do dinheiro é qualquer coisa que se parece com o espírito daquele macaco da história infantil. Deram-lhe um bocado de leite numa panela e para ter a ilusão de que tinha a panela sempre cheia, o macaco punha o leite a ferver para que a espuma crescesse e transbordasse.
      Não tenho nenhuma prevenção contra os ricos, seria tolo se tivesse. Há os que sabem empregar humanamente a sua riqueza. Elogiar a pobreza seria também doentio. O mundo foi feito para que todos nele tivessem um lugar decente. Não há nada que melhor ilustre a moral egoísta de certas criaturas do que a fábula da cigarra e da formiga. Parece que a cigarra leu o Sermão da Montanha e quis imitar os lírios do campo. Passou o verão a cantar, ao passo que as formigas trabalhavam e mais trabalhavam como os homens que, à maneira desse teu amigo Lobo, vivem às cegas, só pensam em dinheiro, esquecidos de que são mortais e de que existe o sol, os campos e as cigarras. O ideal, meu querido, seria um mundo em que cigarras e formigas vivessem em harmonia inteligente.”


      (“Olhai os Lírios do Campo”, Érico Veríssimo, Editora Globo, Porto Alegre, 1973, Página 196.)

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