domingo, 10 de janeiro de 2016

Marionetes do Sistema

      “Começou a pensar nas  pessoas que moravam em casas como aquelas. Deveriam ser, por exemplo, caixeiros, empregados de escritórios, viajantes comerciais, vendedores de seguro, condutores de bondes. Sabiam eles que não passavam de marionetes a dançar, enquanto o dinheiro puxava os cordões? Você podia apostar que não sabiam. E se viessem a saber, por que se importariam? Estavam todos ocupados nascendo, casando-se, procriando, trabalhando, morrendo. Não deveria ser um mal, se você soubesse manobrar a coisa, sentir-se como um deles, fazer parte enfim da manada humana. A nossa civilização funda-se na ganância e no medo, mas, dentro das vidas dos homens comuns, a ganância e o medo transmutam-se misteriosamente em alguma coisa mais nobre. As pessoas da classe abaixo da média ali, por trás das suas cortinas rendadas, com suas crianças, suas escassas peças de mobília e suas aspidistras, sem dúvida alguma viviam dentro do código do dinheiro, mas ainda assim conseguiam conservar a sua decência. De acordo com a sua interpretação, o código do dinheiro não era tomado unicamente como cínico e imundo. Porque mantinham os seus padrões, seus invioláveis pontos de honra. Consideravam-se e conservavam-se como ‘pessoas respeitáveis’ – conservavam o vaso na janela e a aspidistra flutuando ao vento. E além disso, estavam vivas. Constituíam peças integrantes do feixe da vida. Traziam crianças ao mundo – coisa que não fazem, de modo algum, nem os santos nem os salvadores de almas.”

      (“Mantenha o Sistema”, George Orwell, Editora Hemus, São Paulo, Páginas 248-249.)

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