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Ladrão! Sim, bem sei que é como nos chamam, vocês, os ricos! Vejam lá! Quebrei,
escondo-me, não tenho pão nem dinheiro, sou um ladrão! Sou ladrão, e não como
há três dias! Os senhores têm os pés quentes, casacos enchumaçados, moram nos
primeiros andares de casas com porteiros, comem frutas e aspargos a quarenta
francos o molho, no mês de janeiro, e magníficas ervilhas; gabam-se de tudo
isto; e, quando querem saber se faz frio, veem no periódico até onde desceu o
termômetro. Nós! Nós é que somos os termômetros! Nós não precisamos ir ao cais
para ver, na esquina da torre do Relógio, quantos são os graus de frio;
sentimos o sangue coalhar-se nas veias, gelar-se-nos o coração, e dizemos então
que não há Deus! E no fim vêm às nossas cavernas para nos chamarem ladrões! Mas
calem-se, que os havemos de comer! Devorá-los-emos, pobres pequenos!”
(“Os
Miseráveis”, Victor Hugo, Parte Terceira, Livro Oitavo, XX.)
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