sábado, 23 de janeiro de 2016

Devorando os ricos

      “ – Ladrão! Sim, bem sei que é como nos chamam, vocês, os ricos! Vejam lá! Quebrei, escondo-me, não tenho pão nem dinheiro, sou um ladrão! Sou ladrão, e não como há três dias! Os senhores têm os pés quentes, casacos enchumaçados, moram nos primeiros andares de casas com porteiros, comem frutas e aspargos a quarenta francos o molho, no mês de janeiro, e magníficas ervilhas; gabam-se de tudo isto; e, quando querem saber se faz frio, veem no periódico até onde desceu o termômetro. Nós! Nós é que somos os termômetros! Nós não precisamos ir ao cais para ver, na esquina da torre do Relógio, quantos são os graus de frio; sentimos o sangue coalhar-se nas veias, gelar-se-nos o coração, e dizemos então que não há Deus! E no fim vêm às nossas cavernas para nos chamarem ladrões! Mas calem-se, que os havemos de comer! Devorá-los-emos, pobres pequenos!”

      (“Os Miseráveis”, Victor Hugo, Parte Terceira, Livro Oitavo, XX.)

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