quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Turma do Beco 27 – Soninha Toda Pura

            “Aos 14 anos, Sônia fugia do colégio (‘as freiras nem podiam imaginar’) e frequentava de uniforme e tudo o antigo Bar do Muniz, o Banzay, onde pontificavam músicos, poetas e artistas plásticos que faziam o contraste com seu uniforme azul e branco. Era final da década de 50 e ela não abria mão de tomar o drinque da época: Alexander.
      Desta convivência no bar dos desocupados (‘assim muitas pessoas chamavam o nosso lugar de encontro’), Soninha integrou-se no chamado meio artístico. Com certas veleidades poéticas (‘tenho uns rascunhos que algum dia vou ter coragem de mostrar, após uma revisão, é claro’) enturmou com o pessoal da (Escola de Samba) Feliz Lembrança (...) e passou a sair na escola, onde fazia par com Aloísio Campos.
      Uma curta experiência como gerente e relações públicas de um bar, o Viracopos, situado onde é agora o Bar do Beco, não chegou a motivá-la o suficiente: ‘Prefiro ser consumidora...’ Sônia, que se considera uma exigente frequentadora de botequins (‘há que se ter um mínimo de touché no serviço’), no ano de 74 foi uma das passistas do show ‘Beco do Balthazar’, ao lado de Dudu Maravilha.
      Acompanha a MPB, preferindo sambas bem brasileiros (‘quando me casei e fui morar em Londres, com aquele fog todo e o convencionalismo britânico, só tinha como válvula de escape lembrar e cantar em voz alta a nossa música; isso me lavava a alma’) e no Festival de JF de 71, armou uma torcida enorme para a música ‘Cadê Katarina’, de Mamão, Roberto Medeiros e Marcílio Botti, com faixas e charanga.”
      (“História Recente da Música Popular Brasileira de Juiz de Fora – 1945 a 1975”, Carlos Décio Mostaro, João Medeiros Filho e Roberto Faria de Medeiros, Edição dos Autores, Juiz de Fora, 1977, Página 129.)
      Uma das músicas mais famosas de Juiz de Fora é “Beco do Balthazar”, de Mamão, César Itaboray e João Medeiros Filho: “Olha, quem vem lá. É a turma do Beco, cantando para não chorar. Olha, quem vem lá. É o Bloco do medo, do Beco do Balthazar”. Em outubro de 1974 ela concorreu no Festival de Música de Volta Redonda. Quando, na alta madrugada de uma noite gelada, foi anunciado que “Beco do Balthazar” havia ganho o primeiro lugar, Soninha ficou tão alucinada com a vitória que se atirou na piscina do clube com roupa e tudo. Foi recolhida pelos seguranças e providenciaram cobertores para que se aquecesse.
      Eu estive com o meu amigo Jorge (Dode), de Lima Duarte, na década de 80, também num Festival de Música, neste mesmo clube de Volta Redonda. Ele tinha dois amigos lá os quais estavam concorrendo com uma música chamada “Mores”. Lembro-me de parte da letra: “Veja que a vida vai passar / e você, um dia, amigo, / vai beber, se lamentar / das noites que dormiu cedo, / (...) / de seus poucos carnavais. / Ah, não havia poesia em vão, / tudo era festa, fantasia e não / dívidas, máscaras, cansaço / mil papéis, o vil status / controlando a solidão. / Um sonho nunca se desfaz / quem não vive, não merece / ter razões pra recordar / e você, encabulado / vai voltar às noites frias / seus domingos, seus balões. / Doce era o cheiro da jaqueira, / manhã cedo, brincadeira / hoje é noite, é solidão.” Recordei-me de fragmentos da letra, mas da melodia não me esqueci.
      Eu e o Dode ficamos hospedados na casa dos dois compositores. Era uma música muito bonita. Durante o Festival, passei a distribuir a letra para a plateia, ao mesmo tempo em que bebia imoderadamente. Então, apaguei. Lembro-me depois de estarmos num restaurante, com o pessoal. Foi um tremendo porre. O amigos do Jorge me chamavam de “Poeta Doido”. 

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