“Aos 14 anos, Sônia fugia do colégio (‘as
freiras nem podiam imaginar’) e frequentava de uniforme e tudo o antigo Bar do
Muniz, o Banzay, onde pontificavam músicos, poetas e artistas plásticos que
faziam o contraste com seu uniforme azul e branco. Era final da década de 50 e
ela não abria mão de tomar o drinque da época: Alexander.
Desta convivência no bar dos desocupados
(‘assim muitas pessoas chamavam o nosso lugar de encontro’), Soninha
integrou-se no chamado meio artístico. Com certas veleidades poéticas (‘tenho
uns rascunhos que algum dia vou ter coragem de mostrar, após uma revisão, é
claro’) enturmou com o pessoal da (Escola de Samba) Feliz Lembrança (...) e
passou a sair na escola, onde fazia par com Aloísio Campos.
Uma curta experiência como gerente e
relações públicas de um bar, o Viracopos, situado onde é agora o Bar do Beco,
não chegou a motivá-la o suficiente: ‘Prefiro ser consumidora...’ Sônia, que se
considera uma exigente frequentadora de botequins (‘há que se ter um mínimo de touché no serviço’), no ano de 74 foi
uma das passistas do show ‘Beco do Balthazar’, ao lado de Dudu Maravilha.
Acompanha a MPB, preferindo sambas bem
brasileiros (‘quando me casei e fui morar em Londres, com aquele fog todo e o
convencionalismo britânico, só tinha como válvula de escape lembrar e cantar em
voz alta a nossa música; isso me lavava a alma’) e no Festival de JF de 71,
armou uma torcida enorme para a música ‘Cadê Katarina’, de Mamão, Roberto
Medeiros e Marcílio Botti, com faixas e charanga.”
(“História Recente da Música Popular
Brasileira de Juiz de Fora – 1945 a 1975”, Carlos Décio Mostaro, João Medeiros Filho
e Roberto Faria de Medeiros, Edição dos Autores, Juiz de Fora, 1977, Página
129.)
Uma das músicas mais famosas de Juiz de
Fora é “Beco do Balthazar”, de Mamão, César Itaboray e João Medeiros Filho:
“Olha, quem vem lá. É a turma do Beco, cantando para não chorar. Olha, quem vem
lá. É o Bloco do medo, do Beco do Balthazar”. Em outubro de 1974 ela concorreu
no Festival de Música de Volta Redonda. Quando, na alta madrugada de uma noite
gelada, foi anunciado que “Beco do Balthazar” havia ganho o primeiro lugar,
Soninha ficou tão alucinada com a vitória que se atirou na piscina do clube com
roupa e tudo. Foi recolhida pelos seguranças e providenciaram cobertores para
que se aquecesse.
Eu estive com o meu amigo Jorge (Dode),
de Lima Duarte, na década de 80, também num Festival de Música, neste mesmo
clube de Volta Redonda. Ele tinha dois amigos lá os quais estavam concorrendo
com uma música chamada “Mores”. Lembro-me de parte da letra: “Veja que a vida
vai passar / e você, um dia, amigo, / vai beber, se lamentar / das noites que
dormiu cedo, / (...) / de seus poucos carnavais. / Ah, não havia poesia em vão,
/ tudo era festa, fantasia e não / dívidas, máscaras, cansaço / mil papéis, o
vil status / controlando a solidão. / Um sonho nunca se desfaz / quem não vive,
não merece / ter razões pra recordar / e você, encabulado / vai voltar às
noites frias / seus domingos, seus balões. / Doce era o cheiro da jaqueira, /
manhã cedo, brincadeira / hoje é noite, é solidão.” Recordei-me de fragmentos
da letra, mas da melodia não me esqueci.
Eu e o Dode ficamos hospedados na casa
dos dois compositores. Era uma música muito bonita. Durante o Festival, passei
a distribuir a letra para a plateia, ao mesmo tempo em que bebia imoderadamente.
Então, apaguei. Lembro-me depois de estarmos num restaurante, com o pessoal.
Foi um tremendo porre. O amigos do Jorge me chamavam de “Poeta Doido”.
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