segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Turma do Beco 29 – Bacuri

           Nelson Brandi (Bacuri) era na sua época extremamente popular em Juiz de Fora. O slogan de sua campanha para vereador (“um candidato razoável”) chegou até mesmo a ser citado numa crônica de Stanislaw Ponte Preta. Foi um carnavalesco e boêmio em tempo integral, o ano todo, com a sua verve genial e irreverente.
     Durante um Festival de Música em Juiz de Fora, no Cine Central, o famoso sambisca carioca, Zé Keti, chateado com uma derrota, disse que Juiz de Fora era terra de vagabundo. Bacuri ouviu este desaforo e cascou-lhe uma tremenda bofetada na cara, “que levou para o Rio como troféu do nosso Festival”, no dizer do próprio.
      No livro “História Recente da Música Popular Brasileira de Juiz de Fora”, (p. 200), perguntado se a bebida ajudava, ele respondeu:
      “Como não? Desde que usada com talento. Eu já tentei (...) sair da garrafa. Mas nem esvaziando ela eu consegui. Como diz o poeta Rangel Coelho, ‘Só as almas vacuns se alimentam de leite...’, ou como digo eu: ‘Pois quem nasce pra gambá, só não bebe guaraná’...”
      Os discursos políticos de Bacuri são folclore em Juiz de Fora. Falando em plena Zona Boêmia, ele começou assim: “Mulheres e homens, prostitutas e proxenetas das adjacências”...
      Ele exercia o cargo político de forma avacalhada.
      “Geralmente, quando eu ia pra Câmara Municipal, era aquela curriola. (...) Eu nunca entrava ‘pela ordem’. Comigo não tem ordem. E era aquela brincadeira. Eu só pedia a palavra pela desordem.” (Op. cit, 201)
      “No Arado (atual Vila São Benedito) faltava tudo, não tinha nada. Os 365 botequins que tinha por lá fechavam durante o dia e só abriam à noite. Nem tenda espírita tinha no Arado. Eu chegava lá, todo mundo reclamava: ‘Seu’ Bacuri, aqui não tem água, não tem igreja, não tem escolas. Então eu disse: ‘Vou resolver o problema. A água, por exemplo, é um problema que tem solução. E é muito fácil: o rio Paraibuna está lá embaixo. Eu mando construir uma ponte no Arado, e automaticamente o rio Paraibuna vai subir, pois todo lugar que tem uma ponte, tem que ter um rio pra passar por baixo.’ Aí continuaram as reclamações. ‘E as enchentes, ‘seu’ Bacuri?’ Então eu dizia: ‘Vocês sabem de uma coisa? Vocês não vão ter ponte, não vão ter rio, nem posto telefônico, nem nada. Vocês é que tratem de mudar lá pra baixo, lá pra rua Halfeld, pois lá é que tem tudo isso’.” (Op. cit., 201)
      A hilaridade do Bacuri se estendia a todas as suas atividades.
      “Nessa época, eu tinha também um emprego no cemitério. A oposição dizia que o (Prefeito) Olavo tinha me escalado pra separar ossos de defunto, o de branco e o de preto. Isso seria fácil. Osso de defunto preto, diziam, não tinha cálcio, não tinha nada. O de branco, que é sempre mais bem alimentado, iria pra fábrica de farinha de osso, pra fazer adubo. O Olavo brigou comigo e me mandou pro Matadouro. Chegando lá, eu perguntei ao Liberalino qual ia ser a minha função, e que o Olavo me tinha mandado pra lá porque eu não estava trabalhando bem na Câmara. O Liberalino pegou e disse: ‘Olha, Bacuri, o seu trabalho aqui é separar briga de urubu macho com urubu fêmea’...” (Op. cit., 201-202)
      Perguntado se a vida havia sido boa para ele, Bacuri respondeu: “Ótima. Bem poucos milionários tiveram a vida que eu tive. Mama mia!” 

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