Nelson Brandi (Bacuri) era na sua época
extremamente popular em Juiz de Fora. O slogan de sua campanha para vereador
(“um candidato razoável”) chegou até mesmo a ser citado numa crônica de
Stanislaw Ponte Preta. Foi um carnavalesco e boêmio em tempo integral, o ano
todo, com a sua verve genial e irreverente.
Durante um Festival de Música em Juiz de
Fora, no Cine Central, o famoso sambisca carioca, Zé Keti, chateado com uma
derrota, disse que Juiz de Fora era terra de vagabundo. Bacuri ouviu este
desaforo e cascou-lhe uma tremenda bofetada na cara, “que levou para o Rio como
troféu do nosso Festival”, no dizer do próprio.
No livro “História Recente da Música
Popular Brasileira de Juiz de Fora”, (p. 200), perguntado se a bebida ajudava,
ele respondeu:
“Como não? Desde que usada com talento.
Eu já tentei (...) sair da garrafa. Mas nem esvaziando ela eu consegui. Como
diz o poeta Rangel Coelho, ‘Só as almas
vacuns se alimentam de leite...’, ou como digo eu: ‘Pois quem nasce pra gambá, só não bebe guaraná’...”
Os discursos políticos de Bacuri são
folclore em Juiz de Fora. Falando em plena Zona Boêmia, ele começou assim:
“Mulheres e homens, prostitutas e proxenetas das adjacências”...
Ele exercia o cargo político de forma
avacalhada.
“Geralmente, quando eu ia pra Câmara
Municipal, era aquela curriola. (...) Eu nunca entrava ‘pela ordem’. Comigo não
tem ordem. E era aquela brincadeira. Eu só pedia a palavra pela desordem.” (Op.
cit, 201)
“No Arado (atual Vila São Benedito)
faltava tudo, não tinha nada. Os 365 botequins que tinha por lá fechavam
durante o dia e só abriam à noite. Nem tenda espírita tinha no Arado. Eu
chegava lá, todo mundo reclamava: ‘Seu’ Bacuri, aqui não tem água, não tem
igreja, não tem escolas. Então eu disse: ‘Vou resolver o problema. A água, por
exemplo, é um problema que tem solução. E é muito fácil: o rio Paraibuna está
lá embaixo. Eu mando construir uma ponte no Arado, e automaticamente o rio
Paraibuna vai subir, pois todo lugar que tem uma ponte, tem que ter um rio pra
passar por baixo.’ Aí continuaram as reclamações. ‘E as enchentes, ‘seu’
Bacuri?’ Então eu dizia: ‘Vocês sabem de uma coisa? Vocês não vão ter ponte,
não vão ter rio, nem posto telefônico, nem nada. Vocês é que tratem de mudar lá
pra baixo, lá pra rua Halfeld, pois lá é que tem tudo isso’.” (Op. cit., 201)
A hilaridade do Bacuri se estendia a
todas as suas atividades.
“Nessa época, eu tinha também um emprego
no cemitério. A oposição dizia que o (Prefeito) Olavo tinha me escalado pra
separar ossos de defunto, o de branco e o de preto. Isso seria fácil. Osso de
defunto preto, diziam, não tinha cálcio, não tinha nada. O de branco, que é
sempre mais bem alimentado, iria pra fábrica de farinha de osso, pra fazer
adubo. O Olavo brigou comigo e me mandou pro Matadouro. Chegando lá, eu
perguntei ao Liberalino qual ia ser a minha função, e que o Olavo me tinha
mandado pra lá porque eu não estava trabalhando bem na Câmara. O Liberalino
pegou e disse: ‘Olha, Bacuri, o seu trabalho aqui é separar briga de urubu
macho com urubu fêmea’...” (Op. cit., 201-202)
Perguntado se a vida havia sido boa para
ele, Bacuri respondeu: “Ótima. Bem poucos milionários tiveram a vida que eu
tive. Mama mia!”
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