terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Turma do Beco 26 – Cachaça Etérea (Parte 2)

            Uma nova viagem foi feita pela Turma do Beco, mas a Belo Horizonte. Um restaurante forneceu um excelente jantar com comida tipicamente mineira. Encontrava-se lá o Sr. Breno e o Eduardo. Foram lidas as trovas classificadas, mas, infelizmente, não me recordo qual foi a vencedora, ou mesmo se houve esta escolha. Eis, a meu ver, as quatro melhores:
      Essa “Etérea”, com certeza, / é uma sublime alquimia: / volatiliza a tristeza, / materializa a alegria. (Roberto Medeiros)
      Deus Baco, muito inspirado, / provando a “Etérea” na taça, / largou o vinho de lado / e ergueu um brinde à cachaça. (José Antônio Jacob – Tuka)
      A “Etérea”, no seu composto, / é uma pinga inteligente: / - adoça com seu bom gosto / as amarguras da gente...” (Messias da Rocha)
      Licor de pinga caiana, / a “Etérea”, pura bebida, / ao tirar os nós da cana / suaviza os nós da vida. (Marcos Nunes Filho)
      Desconsiderando a questão puramente literária acerca da que mereceria o primeiro lugar, destas quatro, eu creio que a indicada para figurar nos rótulos das garrafas era a minha. Explico. A do Roberto usa dois termos desconhecidos pelos consumidores comuns: “alquimia e “volatiliza”. A do Tuka cita Baco: o povo não faz a mínima ideia de quem se trata. A do Messias é muito boa, mas a minha, além de ser simples e claramente inteligível, diz que a cachaça é produzida sem os nós da cana caiana. E o último verso, além de possuir beleza poética, passa uma mensagem comercialmente positiva.
      Mas a ideia não foi em frente, pois o Roberto veio a falecer em novembro daquele ano. Parece-me que o Sr. Breno batizou a nova produção com o nome de “Topázio Imperial”.
      Eis um texto que escrevi naquela ocasião:
      “Nosso grupo de artistas e amigos de Juiz de Fora, uns meses atrás, esteve na Fazenda Conquista, em Entre Rios de Minas/MG, onde fomos recebidos pelo casal Sr. Breno e Da. Mayrian e seus filhos Eduardo e Cláudia. Foi uma recepção maravilhosa, calorosa e profundamente humana.
      O pressuposto fundamental de um grande ser humano é a sua simplicidade. Esta é a marca registrada desta família. Ser simples, não é ser vulgar, muito pelo contrário. Somente as almas nobres sabem ser humildes. O poder da simplicidade produz em nós a clareza da verdade. E ser verdadeiro é significar, é ter essências na alma, coisas que, nestes nossos queridos amigos, são translúcidas.
      Na Fazenda Conquista ficamos conhecendo o alambique importado que produz uma das melhores cachaças do país, cujo nome nos orgulhamos de ter dado: “ETÉREA”. Por que este nome? Porque é sublime, pura e celestial! Feita de cana caiana, sem o nó, pela qualidade excepcional da sua produção, é daquelas bebidas que não tem ‘dia seguinte’.
      Levados pela leveza da “ETÉREA”, promovemos entre nós, poetas de Juiz de Fora, um concurso de trovas com o objetivo de enaltecer as qualidades de tão divina aguardente. E o resultado superou as expectativas.
      Estão de parabéns o Sr. Breno e sua família, não só pelos seres humanos fantásticos que são, como também pela “ETÉREA”, que em breve estará no mercado à disposição de todos. Ela está fadada ao sucesso.”
      Acho que li este texto naquele jantar em Belo Horizonte.
      Poucas semanas antes de falecer, o Roberto Medeiros (junto com o Décio Mostaro) lançou o livro “Cantos e Contos de Minas”. Após o lançamento, no saguão do Ritz Hotel, houve um jantar em sua homenagem no restaurante Brasão, em Juiz de Fora, quando compareceram o sr. Breno e sua família. Mas não foi a última vez que os vi. Em 2001 estive em Belo Horizonte com o pai e o filho, no escritório da mineradora, quando me trataram com a mesma cortesia e consideração.
      A visita à fazenda foi filmada por um cinegrafista negro, irmão do Serginho, um advogado, quando ambos eram funcionários da Rede Ferroviária Federal. Não tenho atualmente como localizá-los. Está tudo registrado lá no celulóide. Um dia ainda irei consegui-lo. É o único filme em que apareci na vida. 

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